Após depor à Polícia Federal (PF), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento no diretório nacional do PT, em São Paulo, em que criticou a Justiça e a imprensa. Lula prestou depoimento à PF em cumprimento a um mandado de condução coercitiva. A PF deflagrou a 24ª fase da Operação Lava Jato ontem (4). No pronunciamento, o ex-presidente disse que se sentiu “ultrajado” com a ação policial e que o episódio servirá para o PT “levantar a cabeça”.
Lula voltou a negar que seja dono do apartamento tríplex, no Guarujá, no litoral de São Paulo, que está sendo investigado pelo Ministério Público e a Polícia Federal. “Se eu não comprei e não paguei, não é meu”, disse. “Um apartamento que não é meu e dizem que é meu. Espero que quando tudo acabar alguém me dê a chácara e o apartamento”, ironizou. “Quando eu pagar e estiver no meu nome, posso dizer que é meu e terei orgulho de dizer”, completou.
O ex-presidente também criticou a preocupação dos investigadores com o barco de R$ 4 mil, que pertence à ex-primeira-dama Marisa Letícia, e com os pedalinhos de seus netos, que ficam em um sítio em Atibaia, no interior paulista, frequentado por Lula e sua família. “Eu uso a chácara dos amigos porque os inimigos não me oferecem”.
A 24ª fase da Operação Lava Jato apura pagamento de empreiteiras por palestras de Lula e repasse dessas construtoras para o Instituto Lula. O ex-presidente disse ainda ter se sentido “ultrajado” e “magoado” com a ação da Polícia Federal. Ele acrescentou que o episódio serviu para “levantar a cabeça” do PT, que “há muito tempo está de cabeça baixa”.
Críticas à Justiça
Lula fez críticas à atuação do Ministério Público Federal e do juiz federal Sérgio Moro, que autorizou a operação da PF. O ex-presidente chamou de “show pirotécnico” a atuação da Justiça no caso. “Lamentavelmente preferiram usar a prepotência, a arrogância, o show de pirotecnia. É lamentável que uma parte do Judiciário esteja trabalhando com a imprensa”.
O ex-presidente da República reiterou que não se nega a depor à PF, e que bastaria um convite. Em tom de ironia, disse que “a partir da semana que vem, quem quiser um discursinho do Lula, é só acertar passagem de avião, de ônibus não porque demora muito”, que ele estaria disposto “a andar pelo país”.
“Me senti prisioneiro”
Lula defendeu que a democracia precisa de “instituições fortes”. “É importante que os procuradores saibam que uma instituição forte tem que ter profissionais responsáveis.”
“Eu me senti prisioneiro hoje de manhã. Já passei muitas coisas na minha vida, mas acho que o país não pode continuar assim, amedrontado. Antes de os advogados saberem que seu cliente vai ser chamado, a imprensa recebe. Dentro da Constituinte, eu briguei para ter um MP [Ministério Público] forte. Eu vou indicar sempre o primeiro da lista, mas é importante que os procuradores saibam que uma instituição forte precisa de pessoas muito responsáveis”, disse.
O ex-presidente também destacou a autonomia da Presidência da República. “Queria aproveitar para dizer que se tem alguém que precise de autonomia é a presidenta da República [Dilma Rousseff]. Estão cerceando o direito dessa mulher de governar esse país”.
Sobre a possibilidade de voltar a disputar a Presidência da República pela sexta vez, em 2018, disse que dependerá de sua saúde. “Não sei se serei candidato em 2018, a natureza é implacável com quem passa de 70 [anos]. Mas a ciência avançou e essas coisas que eu faço aumentam minha tensão de participar das coisas nesse país”.
Ele destacou o período como presidente do país. Segundo ele, “desde Floriano Peixoto, foi o presidente que mais viajou e mais trabalhou” e criticou a atuação de veículos da imprensa brasileira na cobertura do caso, no que chamou de “julgamento midiático”.
“Não estou indignado com jornalista, não. Estou indignado com alguns veículos de comunicação, com o julgamento midiático. Eu acho que eu merecia um pouco mais de respeito nesse país”, disse. Durante o pronunciamento, Lula foi aplaudido por militantes. Ele encerrou o pronunciamento atacando os críticos. “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo e a jararaca está viva, como sempre esteve”.
Depoimento
Lula depôs por cerca de três horas no escritório da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas, zona sul paulistana. Além da condução coercitiva, foram expedidos mandados de busca em diversos endereços do ex-presidente, como parte da 24ª fase da Operação Lava Jato. Lula foi levado de sua casa, em São Bernardo do Campo, na região do Grande ABC, sob um mandado de condução coercitiva, para o aeroporto. De acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que acompanhou o depoimento, foram abordados diversos assuntos durante as declarações prestadas à polícia, como as palestras que o ex-presidente concedeu após deixar o Palácio do Planalto e a ligação com um sítio em Atibaia, no interior paulista.
Segundo o procurador da República, Carlos Fernando Lima, há indícios de que Lula recebeu pagamentos, seja em dinheiro, presentes ou benfeitorias em imóveis das maiores empreiteiras investigadas na operação policial. De acordo com o procurador, foram cerca de R$ 20 milhões em doações para o Instituto Lula e cerca de R$ 10 milhões em palestras de empresas que também financiaram benfeitorias de um sítio em Atibaia e de um tríplex no Guarujá.
Em frente ao local onde Lula prestava depoimento, houve confusão entre um grupo de militantes do PT e da Central de Movimentos Populares e manifestantes críticos ao ex-presidente. Os grupo pró e contra trocaram agressões e ofensas. Também houve tumulto no saguão do aeroporto. Além de xingamentos e agressões verbais, houve empurrões e bandeiradas. Ninguém ficou ferido. (Agência Brasil)
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