Há dez anos, ouvi pela primeira vez sobre as tempestades solares. Elas estão associadas às manchas solares, que têm ciclos de atividade de onze anos e que foram descobertas por Galileu. Porém, esses fenômenos ganharam interesse somente em julho de 2000, quando os cientistas do Colorado detectaram uma grande emissão de raios X do Sol, uma energia estimada em bilhões de megatoneladas de TNT. Um grande poder destrutivo.
Essa explosão solar foi detectada por uma espaçonave lançada em 1.995, a SOHO (Solar and Heliospheric Observatory) da ESA e da NASA equipada com 12 instrumentos para estudar o Sol. A Soho está localizada em um dos pontos de Lagrange da Terra, o chamado L1. Trinta minutos depois, a Soho detectou outro fenômeno, uma bolha de bilhões de toneladas de plasma, partículas eletricamente carregadas. A bolha viajava a 1.700 km/s e chegou à Terra 25 horas depois. Ao passar pelo Soho, a bolha desligou os instrumentos temporariamente. Na órbita terrestre, a bolha destruiu um satélite japonês e danificou outros.
Cabe lembrar que em março de 1989, a cidade de Quebec, Canadá, teve um grande apagão por causa de uma forte tempestade solar. Esse apagão durou apenas 90 segundos, mas Montreal, também Canadá, ficou sem energia elétrica por mais de nove horas.
Com a popularização do GPS (Global Positioning System), esses fenômenos solares atraíram a atenção dos cientistas e dos usuários leigos que sofrem com as falhas dos aparelhos de localização.
O INPE também tem um grupo que estuda outro fenômeno, as bolhas de plasma, e que presta serviço de informação, isso porque os efeitos das bolhas afetam não somente a agricultura, mas também as empresas de transporte e de logística, perfuração de petróleo, exploração de minerais e aviação.
As bolhas de plasma aparecem no céu brasileiro com mais intensidade no verão, especialmente após as 21h, têm cerca de 1.500 km de altura e 2.000 km de largura. Os raios do sol ionizam os gases a alta atmosfera, região chamada de ionosfera. O plasma ionosférico é uma concentração excessiva de íons na região da ionosfera após o pôr do sol e as bolhas são regiões vazias entre essas concentrações de plasma.
Apesar da importância das bolhas de plasma afetar as telecomunicações e serviços como GPS, ainda é uma área com poucos cientistas, há cerca de 200 pesquisadores no mundo. No Brasil, o principal centro de estudos está na coordenação de Ciências Espaciais e Atmosféricas do Inpe.
A Aeronáutica tem grande interesse por causa da navegação aérea. Hoje, quem sofre mais é a agricultura de precisão que existe justamente para evitar o desperdício e aumentar a eficiência. As máquinas agrícolas usam a navegação por GPS para percorrer o caminho nas imensas plantações para plantar, adubar e colher, se o GPS falhar o tempo todo, ainda que por pouco centímetros, o erro multiplica-se e comprometendo a produtividade.
As bolhas causam problemas no Norte, Nordeste, parte do Centro-Oeste, de Minas, Rio de Janeiro e Espírito Santo, interrompendo sinal do GPS por muitas horas. Que os deputados e senadores fiquem atentos para essas pesquisas quando aprovarem o Orçamento.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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