Em artigo anterior, apresentei os cientistas Ismael Nobre e Carlos Nobre que escreveram um artigo para a Revista Futuribles apresentando a Terceira Via Amazônica ou Amazônia 4.0. E o que falha nas primeira e segunda vias?
Para os cientistas, a primeira via correspondeu, especialmente nas últimas décadas do século 20, à delimitação pelo Estado brasileiro de vastas áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação como parques e florestas nacionais, para assegurar que uma área grande do bioma amazônico fosse preservada perpetuamente.
Atualmente, quase metade da floresta está nessa condição. Entretanto, dados de satélite mostram que os incêndios estão aumentando em reservas próximas a áreas já desmatadas, principalmente após anos de seca intensa. Por exemplo, após a seca histórica de 2010, quase 30% da Reserva Indígena do Xingu foi afetada por incêndios florestais causados pela ação humana.
Assim, os extremos climáticos e a proximidade com a ocupação intensiva pela agropecuária representam ameaça concreta às áreas protegidas. Há ainda outros fatores como invasão para extração ilegal de madeira, garimpo e grilagem de terras, que fazem com que essa proteção legal não seja garantia de conservação da floresta, dos rios, da flora, da fauna e das culturas tradicionais que nela vivem.
A segunda via propõe um modelo de produção de grãos em sistema de monocultura e pecuária extensiva em áreas já em parte desmatadas entre o Cerrado e o início da Amazônia, assim como mineração ou mesmo extração de madeira, de maneira controlada. Com muita terra disponível, excelentes condições de insolação e água, pesquisas de alto nível e um setor agropecuário cada vez mais vibrante, o Brasil superou outros países na produção de alimentos e se tornou líder global nessa área. Mas até quando o agribusiness continuará a obter ganhos crescentes, sem dúvida necessários à economia do país, sem ampliar suas fronteiras em direção ao coração da selva, colocando em grave risco o futuro da Amazônia?
Olhando os números da lucratividade líquida das atividades econômicas na região amazônica, temos, por exemplo, a pecuária que gera de 30 a 100 dólares por hectare por ano de renda líquida com a produtividade média de cerca de uma cabeça de gado por hectare. A soja tem uma lucratividade anual de 100 a 200 dólares por hectare por ano e uma produtividade média na Amazônia de 2.9 toneladas por hectare por ano. A exploração de madeira tem uma renda de 100 a 400 por hectare, para um período de 25 a 30 anos, sendo que 80% da exploração de madeira é ilegal e o potencial de REDD+ (Redução de Emissões de gases de efeito estufa provenientes do Desmatamento e da Degradação floresta) é de 2.500 a 5.000 dólares por hectare, de uma única vez, com o ainda baixo preço médio do CO2 de 2,5 dólares por tonelada.
Na média, temos um rendimento de 125 dólares por hectare por ano, o que é um valor bastante baixo em comparação com a produtividade de outras regiões do Brasil e do mundo. Portanto, o modelo que temos hoje não garante o desenvolvimento sustentável da Amazônia a médio e longo prazo. Precisamos fazer mais, como veremos!
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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