A Organização das Nações Unidas (ONU) detectou pela primeira vez um aumento do consumo de drogas entre pessoas maiores de 50 anos, uma tendência nova relacionada com o envelhecimento da população e que pode representar um desafio para os sistemas de saúde dos países ocidentais, segundo o relatório publicado ontem (26).
Essa tendência é apontada no Relatório Mundial sobre Drogas divulgado em Viena por conta do Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas.
“Há mais pessoas jovens usando drogas do que idosos, mas pela primeira vez desde que temos estatísticas, o consumo de drogas entre pessoas de mais idade está aumentando”, disse em entrevista coletiva Angela Me, autora do relatório e diretora de estatísticas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc).
Os dados dessa tendência, que ainda devem ser investigados mais a fundo, segundo a Unodc, são de países da América do Norte e da Europa, onde é registrado um envelhecimento geral da população.
Por exemplo, nos Estados Unidos, entre 2006 e 2016, o número de consumidores de drogas com mais de 50 anos passou de 3,6 milhões para 10,8 milhões.
Se compararmos com o número de pessoas desse grupo de idade que usaram alguma droga em 1996, cerca de 900 mil nos EUA, o total de consumidores mais velhos se multiplicou por 12 em duas décadas.
Taxas de consumo
Na Europa, a tendência é similar, embora menos acentuada, com as taxas de consumo de cannabis entre as pessoas de 55 a 64 anos crescendo em um ritmo maior em relação a outros grupos de idade.
Entre os motivos desta tendência são apontados a menor percepção de risco, uma maior disponibilidade de entorpecentes, a automedicação para tratar dores e outros problemas de saúde e a continuação do consumo entre algumas pessoas à medida que envelhecem.
As substâncias mais consumidas entre maiores de 50 anos são opioides, analgésicos e cannabis.
O relatório destaca a tendência global - embora mais aguda no Ocidente - ao envelhecimento da população e aponta que, em 2050, metade da população de todos os continentes - exceto a África - terá mais de 50 anos.
Entre os atuais consumidores de mais idade, Angela Me apontou “uma combinação de pessoas que começaram a utilizar drogas quando jovens e envelheceram e, por outro lado, pessoas que buscam paliativos à dor e a outros problemas”.
Entre os primeiros, Angela aponta a geração dos “baby boomers” - nascidos entre meados dos anos 40 e os 60 -, que “no Ocidente foram os que começaram a utilizar mais drogas do que a geração anterior”.
Segundo os dados disponíveis, o perfil do consumidor maior de 50 anos é homem, solteiro, com um nível inferior de estudos e também consumidor de álcool e tabaco.
Este fenômeno pode acarretar também problemas no tratamento, que podem representar um desafio para os sistemas de saúde ocidentais.
Segundo Angela, “o tratamento de drogas entre pessoas mais velhas é muito mais complicado” porque o consumo costuma vir acompanhado de um pior estado de saúde, tanto físico como mental.
O número de pessoas com mais de 50 anos que morrem devido ao consumo de drogas - a maioria por overdose de derivados do ópio e de opioides sintéticos - também aumentou de forma significativa.
Em 2015, 39% dos mortos por conta do consumo de drogas - cerca de 450 mil pessoas - eram maiores de 50 anos, enquanto no ano 2000 representavam 27% do total. (Agência Brasil)
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