Quando criança no interior do Maranhão no final dos anos 60 ouvia dos mais velhos a seguinte frase: “Se 2000 chegar, de 2000 não passará”.
Nos encontramos exatamente em dezembro de 2018.
Nesses sessenta anos, geração veio e geração foi. Ocorreram fatos estarrecedores e fakes desagradáveis.
Nesse tempo que passou experimentamos o ápice de todos os nossos sentidos, vimos, ouvimos, pegamos, degustamos e captamos aromas maravilhosos.
Vi e fiz coisas que me alegraram e outras que entristeceram-me; ouvi músicas com melodias maravilhosas, outras nem tanto; peguei em objetos que proporcionaram muitas satisfações, mas evitei lançar mão de outros; degustei alimentos saborosíssimos; e senti o aroma de fragrâncias especiais.
Nessas dezenas de primaveras que se foram, também todos os nossos sentimentos afloraram, nem sempre de forma amável e gentil. Porque nessa caminhada humana podemos nos comportar como ovelha, ou como uma hiena, isto está na nossa natureza corrompida.
Nesse tempo, fiquei irado, me indignei, fiquei feliz, sorri, chorei, perdi, ganhei, fui, voltei, falei, calei, cai, mas levantei.
Eu ainda estou aqui. Casei, tive filhos, noras, genros e netos.
Nesses sessenta anos que se foram, em parte dessa caminhada tive um encontro que se tornou um “divisor de água” na minha vida. Fui achado pelo Autor e Consumador da existência humana, e minha vida tomou outro rumo.
Um colega teólogo diz e eu comungo dessa ideia com ele: “Um mundo onde a estética é super valorizada, é difícil admitir nossas imperfeições, inadequações e fraquezas. Envelhecer nesse tempo não é nada fácil, os chamados velhos ou idosos já não são tão requisitados”.
Se dependesse de nós nunca faríamos parte desse time. Não é fácil admitir que o tempo passou, mas se formos mais cautelosos e gratos, perceberemos que somos privilegiados, o tempo passou e ainda estamos aqui, algum propósito há nisso.
Sem dúvida que somos um país cristão, e esse fato tem nos favorecido bastante.
Dois momentos nos remetem a isso: a Páscoa e o Natal.
Oxalá possamos imitar os discípulos de Cristo na Antioquia que ganharam esse título, pelo comportamento exemplar que lembrava o próprio Cristo.
Nesse momento fico a me perguntar: 
E se o menino Jesus não tivesse nascido?
O que seriamos?
Existiríamos?
Certamente que não.
No momento da criação do ser humano, a Bíblia, nosso livro de regra prática e fé, afirma: “a terra era sem forma e vazia” – o caos estava estabelecido. Mas Deus fez restabelecer a ordem. Nos criou à sua imagem e semelhança. Mas algo aqui nesse momento me chama a atenção, quando Deus diz: “Façamos” – Ele não estava só nesse projeto, o filho e o Espírito Santo estavam juntos, foram não apenas testemunhas, mas coparticipantes. Mas por desobediência dos nossos primeiros pais lá no jardim, perdemos parte dessa formação, a partir daí nossa existência ficou comprometida, em função disso resultaram maldições.
Mas Deus em seu infinito amor e misericórdia, num bendito dia, reúne o Filho, o Espirito Santo, os serafins, querubins e arcanjos e faz uma pergunta:
“A quem enviarei, quem há de ir por nós?” Houve um silêncio, mas de repente, seu filho, aquele que esteve presente na criação de tudo, disse: “eis-me aqui, envia-me a mim”.
Alegremo-nos, Ele veio, por isso temos o natal. 
Isaias, um profeta do Antigo Testamento, 700 anos antes de Jesus disse: (Is.9:6) “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu, o governo está sobre os seus ombros, e o seu nome será, Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”.
Ele morreu, por isso temos a Páscoa.
Ele ressuscitou, foi assunto ao Céu, e está sentado à direita de Deus Pai, aguardando o momento de retornar.
Assim como os homens O viram subindo, homens O verão descendo. Ele voltará. Mas enquanto Ele não volta festejemos mais um natal.
O natal nos traz esperança, mas nos traz também responsabilidade, e isso nos faz pensar no maior de todos os mandamentos – “amar a Deus de todo nosso coração de toda nossa alma e o nosso próximo como a nós mesmos”.
Não esqueçamos a parábola do Bom Samaritano.
Lembremo-nos sempre: O Deus que criou o universo tornou-se homem e habitou entre nós, sentiu as nossas dores, nossas mazelas, se compadeceu, e como cordeiro foi imolado. O preço da desobediência dos nossos primeiros pais foi cancelado naquela cruz. E aquilo que nos era impossível, que era impagável, a partir do sacrifício daquele menino da manjedoura, que se tornou homem naquela cruz, nos foi restituído.
Recebamos como dádiva, como favor imerecido, mais um ano.
Feliz 2019!

José R. Silva Braga - Teólogo e Sociólogo