Maurício Martins

São 16h na capital marajoara, cidade das mangueiras. Pego o carro e saio do edifício Glaucia Fonseca pela Almirante Barroso, logo à direita pego a travessa Vileta até a Avenida Primeiro de Dezembro (hoje Avenida João Paulo II), passo pela Humaitá, me aproximo da Travessa do Chaco, me recordo das tardes de sábado com os amigos da Escola Técnica Federal do Pará, onde no bar Reboque escutávamos música tomando uma Cerpa gelada; passo pela Curuzu, Antônio Baena até a Rua Ceará, viro à direita, sentido rodoviária, entro na Avenida José Malcher, onde tem um monumento em homenagem ao ex-governador Magalhães Barata; passo pela Castelo Branco e sigo em frente, uma linda sensação invade meu coração; cruzo a travessa Castelo Branco, 14 de Abril, 3 de Maio, 14 de Março, Alcindo Cancela, Generalíssimo Deodoro, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Benjamim Constant, Doutor Morais até chegar na Assis de Vasconcelos. No coração da Praça da República, está o Teatro da Paz, belo monumento erguido no áureo tempo da borracha, a qual gerou riqueza pra nossa capital. Sigo em frente, até a Castilho França, Estação das Docas, entro na Presidente Vargas, avenida do centro financeiro de Belém, e também dos cinemas Palácio e Olímpia, Bar do Parque, colégio feminino IAPI, de novo na Assis de Vasconcelos, agora na Praça Batista Campos (um dos mais belos espaço verde da capital paraense), com pista de cooper, onde jovens e idosos fazem sua caminhada e depois tomam uma água-de-coco; à esquerda, entro na Mundurucus, de novo Benjamim Constant, Rui Barbosa, até a Quintino, pego de novo à esquerda, sigo pela Conselheiro Furtado, passo pela antiga loja Mesbla (hoje Shopping Iguatemi), chego na Almirante Tamandaré, viro à direita, de novo Praça da República e entro na Avenida Nazaré.
Avenida Nazaré com doutor Morais, paro, me bate uma saudade danada, aqui passei quatro anos maravilhosos da minha vida. Edifício IBM, décimo quinto andar, neste endereço trabalhei pela primeira vez com carteira assinada, era um jovem buscando seu sonho. Aqui fiz grandes amizades, trabalhei com pessoas boas e aprendi muito, principalmente a valorizar a família, pois aqui ganhei de presente uma família, do meu inesquecível amigo Dr. Félix Emanuel Teixeira de Oliveira. Sigo em frente, passo pela TV Liberal, sede do meu querido Paysandu, passo também pela sede do meu arqui-inimigo Clube do Remo, Colégio Nazaré, Colégio Marista, entro no Largo da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, hoje Santuário da padroeira do povo paraense, local de forte devoção e fé de um povo, aqui tem o círio de Nazaré no mês de outubro, quase dois milhões de romeiros na maior procissão religiosa do mundo.
Sigo em frente, passo de novo pela Alcindo Cancela, 14 de Março, passo pelo museu Emílio Goeldi, da onça pintada, da cobra sucuri, jacarés, capivaras, pacas, cutias, anta, tartarugas, lontras, peixe boi, gavião real e outros pássaros da nossa rica fauna amazônica, palácio do governador (residência oficial), passo em frente à sede dos sindicatos dos motoristas de transporte rodoviários (São Cristóvão), aqui também neste local realizamos muitos bailes para angariar fundos para nossa colação de grau na escola federal do Pará.
Continuo em frente, saio no secular mercado de São Braz, uma construção antiga de arquitetura colonial, no passado, ponto de partida e chegada dos paus de araras, que conduziam os passageiros das cidades vizinhas do interior paraense. Passo pelo terminal rodoviário, estou de volta a Almirante Barroso, campo do Remo na Antônio Baena, campo do Paysandu na Travessa Curuzu, Chaco, Humaitá, Vileta, Estrela, Mariz e Barros, Mauriti, Barão do Triunfo, Angustura até a Lomas Valentina. Na Lomas com Almirante Barroso, fica a maior área verde de preservação ambiental de Belém, o bosque Rodrigues Alves, com suas árvores altas, pássaros e animais silvestres. Entro à esquerda, passo pela 25 de Setembro. Na Duque de Caxias entro à direita, travessa Perebebuí, morei aqui por algum tempo, Cassazum (clube da aeronáutica), onde brinquei os melhores bailes de carnaval, Alferes Costa até a Avenida Doutor Freitas, em frente ao Hangar (o maior centro de convenções do norte do Brasil), aqui passei uma das minhas maiores emoções, a formatura em medicina de minha menina; retorno pela Duque de Caxias, local tradicional do point paraense, com bares onde servem o caranguejo, bolinho de pirarucu e a cerpinha gelada.
Pela Duque se chega ao Santuário de Fátima, entro à direita, estou na Oliveira Belo, sigo até a Alcindo Cancela, passo pelo CESEP, até a Bernal do Couto com Avenida Pedro Miranda, faço o contorno pela Praça Eneida de Morais.
Neste cruzamento da Avenida Alcindo Cancela com Ferreira Pena, aqui eu paro, desço do carro pra recordar, quantas e quantas vezes passei minhas férias neste lugar, era um garoto muito feliz na casa da família Andrade, fui vizinho de dois personagens da crônica paraense, um era marginal, seu codinome “Pelé do Samba”, malandro que morava nesse lugar e atuava na região do Telégrafo. Nós garotos, quando o avistávamos, deixávamos tudo que estivéssemos fazendo, um misto de medo e respeito invadia nosso ser, de vez em quando ele era notícia nas páginas policiais do “Diário do Pará”. O outro vizinho ilustre era Mário Cuia, com seus 200 quilos, o eterno Rei Momo da folia momesca, ele possuía uma lambreta (acreditem, suportava seu peso) e uma rural willys, “Cuia” com sua simpatia e alegria eternizou o carnaval paraense. Entro no carro e sigo em frente, agora na Ferreira Pena, onde tinha o tacacá da Elaine, um dos melhores de Belém...
São 18:05 hs na minha querida Belém do Pará.