A sociedade brasileira é vítima de certa acefalia histórica. A educação desonesta que nos é ministrada nos bancos escolares é constituída de preconceitos e inverdades numa indiscriminada cruzada de nos manter numa judiciosa ignorância de líderes que não agradam os setores secularmente dominantes de nosso país.
Não há hombridade de se reconhecer páginas gloriosas de nossa história, escrita por homens que se colocaram em antagonismo ao pensamento elitista e conservador.
Uma destas vítimas agredida foi Leonel de Moura Brizola, que implacavelmente foi perseguido e vilipendiado em seus mais elementares direitos por essa casta social alimentada de privilégios.
Herdeiro legítimo e inconteste do Trabalhismo de Getúlio Vargas e Alberto Pasqualini, o menino de Carazinho do interior do Rio Grande do Sul, tornou-se um dos maiores vultos da política brasileira do século XX.
No cerne de seu pensamento funda-se a defesa intransigente de um país que caminhe com os seus próprios pés e que seja dono de seu próprio destino, superando o processo de dependência estrangeira que atrofia nosso desenvolvimento enquanto nação, e que nos embute um complexo de vira-latas.
Brizola sem dúvida se transformou em sua trajetória em uma das poucas sínteses mais fiéis do conceito de Soberania Nacional que tivemos.
De engraxate ao único homem que governou dois estados pelo voto direito, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, foi um dos maiores construtores de escolas da historia republicana brasileira.
Implantou o conceito de escola de tempo integral no Brasil, ao juntar dois gênios como Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro, e compreendia que educação de qualidade é uma afirmação de libertação e afirmação de nossa identidade pátria, num inconteste conceito de que o povo seja o verdadeiro protagonista.
A mesquinharia e a hipocrisia de nossas elites destruíram os CIEPs edificados nos governos Brizola no Estado do Rio de Janeiro.
Hoje, dependemos das UPPs para ocupação social nas comunidades carentes, reféns da criminalidade e do tráfico de drogas.
Brizola foi igualmente o único líder civil que impediu um golpe militar em seu país. A denominada “Campanha da Legalidade” foi um marco indelével e que engrandece a biografia de Brizola.
Em 1961, Jânio Quadros renuncia à Presidência da República e, pela ordem Constitucional o vice-presidente João Goulart deveria assumir.
Jango, em visita oficial à China, vê seu direito ameaçado por militares, que querem dar um golpe de Estado.
Foi quando Leonel Brizola armou a resistência pregando a Legalidade, neste caso, a posse de Jango.
Através da Rádio Guaíba formou-se a Rede da Legalidade que foi o levante do povo em defesa da Constituição e colimou com o recuo dos golpistas da época.
Com o passar de mais de 10 anos de sua morte física, o Congresso Nacional junto à sansão da presidente Dilma Rousseff concede a Brizola o título de “Herói da Pátria”.
Herói sim!, pois em um país de tantos “santos de pé de barro”, de uma elite predatória e preconceituosa, Brizola é sem dúvida a chama ainda viva de esperança na edificação de nossa Soberania e justiça social.
Assim como Jango teve as honrarias de Chefe de Estado para exumação do seu corpo depois de mais de 30 anos, é mais do que justo reparar as tantas perseguições e embustes contra mais um líder que amou profundamente seu povo e que morreu ereto em seus princípios e suas lutas.
Brizola sintetiza os melhores sonhos de igualdade.
Como um fio condutor da historia é uma das mais belas cepas do Trabalhismo e do pensamento progressista brasileiro.
Henrique Matthiesen
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