Um dos comunicadores que sofreram tentativa de assassinato foi o radialista e jornalista Márcio Lúcio Seraguci. Em entrevista à Agência Brasil, ele disse que foi atacado por três homens ao sair de um evento, nas imediações de Parnaíba, em Mato Grosso do Sul, cidade onde vive. “Fiquei muito machucado. Fiquei três semanas acamado”, relatou. Espancado e estrangulado com uma corda, Seraguci diz que perdeu a consciência durante a agressão e acordou desnorteado. “Eu nem lembrava o que tinha acontecido.”
O radialista apresenta desde 1988 o programa Tribuna Livre, em que trata de temas delicados como operações policiais e denúncias envolvendo políticos. Nesse período Seraguci, que também dirige um jornal, diz ter recebido outras ameaças. “Você sabe como é política em cidade do interior”, comentou o radialista para explicar as reações a seu trabalho. Além desse histórico, o radialista conta que as próprias atitudes dos atacantes não deixam dúvidas de que o crime foi motivado por sua atuação como comunicador. “Eu dizia ‘leva tudo’. Eles respondiam que não vieram pegar nada. Não levaram nem a carteira”.
A falta de conclusão das investigações sobre o caso é algo que incomoda, especialmente Seraguci. “Uma coisa que a gente fica chateado é de não ter a conclusão dessa investigação. Eu aguardo isso com ansiedade, eu quero saber [o motivo do ataque].”
Quanto aos motivos que estariam por trás das violações, nove deles ocorreram em razão de alguma denúncia feita; sete, devido a uma investigação [como apuração de informações para reportagem] e cinco acontecem em função de manifestação de críticas e opiniões.
Os agentes do Estado aparecem como os principais autores das violações contra comunicadores no país, sendo responsáveis por 16 dos 21 casos. Entre os agentes, políticos estavam envolvidos em nove casos.
Em relação aos defensores dos direitos humanos, ocorreram 34 violações, das quais 12 foram homicídios, sete tentativas de assassinato, 14 ameaças de morte e um caso de tortura. Das 34 violações, 20 ocorreram em municípios com até 100 mil habitantes. “Os crimes que aumentaram foram relacionados a lideranças rurais, indígenas e quilombolas”, disse Júlia Lima.
A maior parte dos casos relaciona-se com conflitos de terra (23), sendo que 15 vitimaram lideranças rurais. Quatro foram contra lideranças indígenas e quatro contra quilombolas. Houve casos de violações contra três militantes políticos e três lideranças LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais), seguidos por violações a lideranças comunitárias e advogados, com dois casos cada. Houve também um caso contra uma política em exercício.
Entre as mortes ocorridas em 2014, está a de uma integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Eldorado dos Carajás (PA). De acordo com a denúncia, Maria Paciência dos Santos, de 59 anos, foi atropelada por um caminhoneiro que avançou deliberadamente contra uma passeata do movimento na BR-155. No mesmo município, 19 militantes do MST foram mortos em abril de 1996 durante uma operação policial para desobstruir a mesma rodovia em que Maria Paciência foi atropelada. O MST ainda cobra punição para os responsáveis pelo massacre.
Entre os perfis de possíveis autores das violações contra defensores dos direitos humanos, destaca-se a figura do fazendeiro ou grileiro, com 17 casos, metade do total. Em seguida, vêm empresários (11% dos casos), políticos (9%) e policiais (6%). Não fazem parte de nenhum desses perfis típicos os possíveis autores de três casos e não foi possível apurar o perfil do autor em cinco outros casos.
Publicado em Geral na Edição Nº 15297
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