Os cientistas aparentam ter um ceticismo incrível, e é incrível mesmo, não crível, pois são seres humanos como todo o resto da humanidade. Uma boa parte até se professa ateu, porque crer é uma experiência pessoal. Porém muita ciência exige muita fé...
Desde que se colocaram em órbita os telescópios, mais e mais descobertas são feitas, inclusive de planetas como a Terra. Uma dessas estrelas, nomeada de KIC 8462852, da constelação de Cygnus, apresenta uma anomalia. É comum observar nas estrelas sombras regulares e de curta duração, são os planetas e outros corpos celestes que orbitam essas estrelas. No caso da KIC 8462852, astrônomos observaram alguns eventos incomuns que duram de 5 a 80 dias. Há quem veja aí a possibilidade de se tratar de uma estrutura alienígena.
A descoberta foi feita por astrônomos profissionais e amadores do programa “Planet Hunters”, e descrita em artigo na revista científica “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society”. O “Planet Hunters” consiste em uma rede de voluntários que analisa visualmente toneladas de dados gerados pelo Kepler, em busca de alterações na luminosidade de estrelas, que podem indicar a presença de planetas, ou melhor, exoplanetas.
A variação de luminosidade foi comparada como outras 150 mil estrelas em busca de correspondências e nada foi encontrado. Os pesquisadores acreditaram tratar-se de uma estrela jovem, com nuvens de poeira que pudessem interferir na luz da estrela, porém todos os outros dados indicavam que ela fosse uma estrela madura. Outra possível explicação seria a presença de detritos de uma grande colisão planetária, como a que levou à formação da nossa Lua, mas não existe um padrão do período orbital, o que descarta essa possibilidade.
Foram levantadas outras hipóteses menos prováveis, como colisões catastróficas no cinturão de asteroides, ou da acumulação de corpos de gelo que medem entre cem metros a cem quilômetros, e até mesmo a passagem simultânea de uma grande quantidade de exocometas.
O pesquisador Jason Wright, astrônomo da Penn State University, acredita que o padrão anômalo da estrela seria consistente com uma complexa megastrutura, como coletores de luz estelar, tecnologia que se acredita que civilizações evoluídas desenvolveriam para extrair energia de estrelas. Esse tipo de megaestrutura é chamada de esfera de Dyson. Para Wright, alienígenas devem ser sempre a última hipótese considerada.
A hipótese alienígena acabou em novembro, quando o Instituto Seti apontou a Rede de Radiotelescópios Allen para estrela e não captou nada, e outros cientistas usaram o telescópio de 0,5 metro de diâmetro do Observatório Ótico Seti de Boquete, no Panamá, para procurar por pulsos luminosos com duração de até um bilionésimo de segundo vindos da estrela. Embora pequeno, o telescópio está equipado com instrumentos sensíveis. Isso apontou para um agrupamento de cometas em uma órbita elíptica afastada como a mais provável. Os “aliens” ficaram para a próxima.
Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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