Muita gente imagina que cada livro da Bíblia foi escrito por alguém que se sentou em uma escrivaninha como um escritor ou jornalista, mas não é bem assim, como nos mostra a Cartas aos Hebreus, que apesar da autoria ser atribuída a Paulo, a verdade é que nada sabemos a respeito de quem escreveu esse texto e muito menos para quem ela foi dirigida. E essa é a situação da maioria dos livros da Bíblia, por isso a importância de Cursos de Teologia como que faço na Diocese de Caraguatatuba.
Como ensina Pedro Lima Vasconcellos no livro “Como ler a carta aos Hebreus”, quem escreveu o texto fala muito do céu, descreve o que lá acontece, mostra Jesus sentado à direita de Deus, anjos fazendo festa, parecendo até que escritor esteve por lá, e ele mesmo afirma que a comunidade também fez a mesma visita ao céu (Hb 12,21-24).
Há um paralelo interessante no livro do Apocalipse, a partir do capítulo 4, quando João é levado ao céu e contempla tronos, anciãos, anjos e tantos outros seres. E ainda Paulo que afirma que alguém (provavelmente ele mesmo) subiu até o terceiro céu e ao paraíso, onde escutou palavras inefáveis que ele não podia repetir (2Cor 12,1-10, Gl 1,11-18).
Como se vê, essas visitas ao céu não eram incomuns na época do Novo Testamento. Eram provavelmente resultado de êxtases que ocorriam no meio dos cultos, e assim a comunidade entrava em contato direto com Deus.
Sobre o conteúdo da epístola, pode-se dizer apenas que o autor do texto é alguém que ouviu falar de Jesus e de sua mensagem por meio de pessoas que teriam convivido com ele (Hb 2,1-4) ou de gente que a escutou do Senhor. Isso dá também uma indicação sobre a época em que o escrito teria surgido, ou seja, entre os anos 80 e 90, quando as testemunhas (mártir em grego) de Jesus e que conviveram com ele já tinham morrido, inclusive também o próprio Paulo.
E, talvez, também haja uma indicação sobre o lugar de onde o escrito partiu. Em 13,24, fala-se que “os irmãos da Itália” mandam saudações à comunidade que recebe o texto. É possível que o escrito tenha surgido em Roma, onde havia uma comunidade seguidora de Jesus já há certo tempo, e de lá tenha sido enviado.
Mas para quem? É quase impossível responder essa pergunta sobre o local e sobre a comunidade. Certamente nela havia gente de origem judaica, capaz de compreender toda a argumentação baseada nas Escrituras. Os estudiosos enxergam indicações de que seria umma cidade da Ásia Menor, região por onde Paulo passara algumas décadas antes.
Ao contrario de todas as cartas precedentes, a Epístola aos Hebreus teve sua autenticidade posta em dúvida desde a antiguidade. Raramente se encontra sua canonicidade, a Igreja do Ocidente, até o final do século IV, recusou-se a atribuí-la a Paulo, e a Igreja do Oriente aceitou o seu atributo com algumas reservas quanto à sua forma literária, como nos atesta Clemente de Alexandria e Orígenes. É que, com efeito, o estilo de escrita dessa carta é de uma pureza elegante que não pertence a Paulo. A maneira de citar e utilizar o Antigo Testamento não é a sua certamente. E faltam ainda o endereço a quem se destina e o preâmbulo com que Paulo costumava iniciar suas cartas.
Mario Eugenio Saturno
(cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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