O servente Júlio Saturnino da Silva, com suspeita de câncer, procura por parentes no Maranhão - Foto Lima Rodrigues
Lima Rodrigues entrevistou o “Seu” Júlio na casa dele, no bairro Nova Carajás, em Parauapebas (PA) - Foto Lima Rodrigues

Por Lima Rodrigues

A vida está por um fio para o maranhense Júlio Saturnino da Silva, de 60 anos, mas ele ainda tem esperança de reverter esta situação. Acredita em Deus e sonha, além de recuperar a saúde, reencontrar os irmãos que não ele não vê há 48 anos. Acha que os irmãos ainda estão pela região de Santa Luzia do Tide, no Maranhão. Com suspeita de câncer nos órgãos genitais, uma hérnia, diabetes chegando, sem poder trabalhar, sozinho na vida e às vezes até sem nada para comer, a vida não está fácil para o “Seu” Júlio, que é semianalfabeto. Uma história de vida triste, solitária e muito sofrimento. Ele precisa de ajuda urgente das autoridades de saúde e do apoio da comunidade para sobreviver. O primeiro passo é ir para Belém e fazer uma cirurgia. É o que está pedindo.

Uma vida sofrida
Júlio da Silva nasceu no antigo povoado denominado, à época, “Baixãozinho dos Almeidas”, no município de Barreirinhas (MA), onde Deus abençoou e colocou o belo e maravilhoso Parque Nacional dos Lencóis Maranhenses. Mas a vida de “Seu” Júlio não foi e nem está nada maravilhosa. Ele disse que o Saturnino acrescentou na hora em que “foi fazer os documentos”, porque não sabia o sobrenome da mãe. O pai dele se chamava Bento Almeida de Sousa. O nome da mãe? Só sabe que é Maria. O pai era lavrador e a mãe dona de casa. O casal teve 8 filhos: Júlio, o mais velho; Mariana, Bernarda, Francisca, Domingas, Maria da Conceição, Osvaldo, José de Ribamar. Júlio não vê os irmãos desde 1972. E nem os tios, irmãos do pai dele: João, José e Bernardo Gilo. 
De “Baixãozinho dos Almeidas”, ainda garoto, ele foi levado pelo pai para uma fazenda localizada entre os municípios de São Benedito do Rio Preto e Chapadinha (MA). O pai fora trabalhar na fazenda de um senhor conhecido por “Sidney”, que plantava milho, mandioca e feijão. De lá, os dois foram para o então povoado chamado Araguanã de Turí, hoje a cidade de Araguanã, criada em 10 de novembro de 1994, após o distrito ser desmembrado do município de Zé Doca, outra importante cidade maranhense. “Aí meu pai se desgostou da roça e fomos embora para o povoado de Brejo de Areia (Segundo o IBGE, elevado à categoria de município em 10 de novembro de 1994, desmembrado de Altamira do Maranhão). 
Ficou na região de Brejo de Areia por cerca de cinco anos ajudando o pai na zona rural. Jovem e com bastante saúde, resolveu procurar um serviço melhor. Ficou sabendo que estava sendo construída a barragem de Tucuruí, no Pará. Não teve dúvida. Foi bater em Tucuruí, foi “fichado” e trabalhou por lá em uma empresa por mais de cinco anos. Depois, foi trabalhar em fazenda, plantando arroz, feijão, milho e mandioca. No total, ficou na região de Tucuruí por mais de 11 anos. Nesse período, morou junto, por nove anos, com uma mulher chamada Maria Raimunda. “Mas nunca me casei de verdade e nunca tive filhos”, revelou “Seu” Júlio. O relacionamento não deu certo e ele foi embora para Macapá, trabalhou como caseiro em uma chácara, mas acabou ficando só um ano no estado do Amapá. De Macapá, resolveu retornar para o Pará e foi residir em Eldorado do Carajás, onde morou por mais de três anos com outra mulher, a Maria, cujo sobrenome ele não se lembra. De Eldorado, resolveu se mudar para Parauapebas, a Capital do Minério, no sudeste do Pará, onde já mora há 12 anos. Para sobreviver, vendeu picolé e foi servente de pedreiro. Ele conseguiu junto à Prefeitura Municipal de Parauapebas o chamado aluguel social no bairro Cidade Jardim. A prefeitura pagava os R$ 400,00 reais do aluguel. Recentemente, o guerreiro Júlio conseguiu e já recebeu a primeira parcela do Auxílio Emergencial oferecido pelo governo federal nesse tempo de pandemia da covid-19.
Dia 20 de maio “Seu” Júlio recebeu as chaves de uma pequena casa na QNC 920 Lote 32, na Nova Carajás, 9ª Etapa, local também conhecido por “Invasão da Nova Carajás”.

O câncer
O solitário Júlio da Silva já foi atendido no Hospital Regional de Parauapebas, após passar pela Diretoria de Regulação, Controle e Avaliação (Dirca), da Secretaria Municipal de Saúde, e foi constatado que ele está com suspeita de câncer nos órgãos genitais (no pênis e na próstata). “O médico passou remédio, mas sinto dor e o caroço só aumenta aqui no meu órgão genital”, revelou. Ele já recebeu até autorização para ir fazer tratamento em Belém por intermédio do Tratamento Fora do Domicílio (TFD). “Mas ainda não fui porque precisa de uma pessoa para me acompanhar e eu não tenho acompanhante”, disse ele.
“Seu” Júlio já passou fome na vida, inclusive, na nova moradia, mas graça aos vizinhos, que fizeram uma campanha nas redes sociais, ele recebeu cestas básicas. Fazia comida com muita dificuldade e mal se alimentava, porque não tem nem geladeira em casa. A vizinha, uma jovem senhora chamada Larissa Galvão, e mãe dela, Cecília, ficaram dramatizadas com a situação dele, foram lá, fizeram uma limpeza na casa e preparam um almoço para ele. “Ele comeu muito bem. Estava com muita fome”, informou Cecília, demonstrando preocupação. “Eu não posso ficar cuidando dele. Tenho três filhos pequenos para cuidar e minha mãe mora lá no bairro Casas Populares e também não pode ficar aqui o tempo todo. Ele passa o dia praticamente deitado em uma rede. Por isso, resolvi ligar e pedir ajuda para ver se o senhor encontra a família dele no Maranhão, já que o senhor faz muita ação social e ajuda encontrar pessoas desaparecidas. Ele está sofrendo muito e queria ver os parentes antes de morrer”, declarou a vizinha Cecília ao repórter. “
Na situação em que se encontra, com a saúde cada vez mais debilitada, “Seu” Júlio pode não chegar aos 61 anos de idade dia 22 de novembro deste ano. Ele precisa de ajuda urgente para ser conduzido para Belém e fazer uma cirurgia, antes que o câncer o mate em Parauapebas.
Enquanto isso, foi tentar encontrar familiares do esperançoso Júlio Saturnino da Silva, possivelmente, em Santa Luzia do Tide, no Maranhão. Antes que seja tarde demais.