BRASÍLIA-DF - O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) criticou em Plenário, ontem (5), o tom de comemoração nos anúncios oficiais de aumento de beneficiários do programa Bolsa-Família. A seu ver, o que mereceria ser celebrado é exatamente o contrário: a redução do número de pessoas que precisam de bolsas para sobreviver, graças a uma formação educacional que lhes permita evoluir com autonomia.
A avaliação foi feita durante discurso em que ele analisou o golpe militar de 1964, abordando as reformas de base que estavam sendo debatidas à época e que foram abortadas pelo novo regime. Em sua opinião, muita coisa também deixou de ser feita desde então, sendo o mais importante uma reforma educacional que garanta aos filhos dos pobres uma escola pública com a mesma qualidade apresentada naquelas onde estão os filhos da elite nacional.
- Continuamos tendo que aumentar o número de pessoas que, para sobreviver, recebem a aposentadoria rural ou o Bolsa-Família, apenas porque não fizemos a verdadeira reforma educacional, aquela que assegura escola igual para todos os brasileiros – defendeu.
O senador assinalou que insiste no assunto, embora isso possa parecer repetitivo, por entender como “imoral” a desigualdade educacional. Lembrou que por muito tempo o país também aceitou como “natural” a escravidão, até que veio a Lei Áurea. Aproveitou para destacar como um recente avanço a aprovação da chamada PEC das Domésticas, que estendeu à categoria todos os direitos trabalhistas.
- Mas não houve a abolição total das necessidades de nossas trabalhadoras domésticas: a verdadeira será quando o filho da empregada doméstica estudar na mesma escola do filho da patroa, ou, se quiserem, uma escola com a mesma qualidade oferecida para o filho da patroa – assinalou.
“Monstrópolis”
Com relação ao golpe de 64, o senador observou que foi estimulado por três principais fatores, um deles o clima de radicalismo ideológico da Guerra Fria. A seu ver, havia ainda o temor pelo “fim da democracia”, com a maioria dos líderes militares achando que deveria impedir a marcha do governo para um regime totalitário igual ao da União Soviética. Por último, apontou o “egoísmo da elite”, com sua recusa a aceitar as reformas de base, entre as quais a reforma agrária.
- Em minha concepção, essa foi a mais forte causa, e que nos fez pagar, por 21 anos, um alto preço, o preço do exilado, do torturado, das prisões, que foi um preço imenso do ponto de vista individual.
Ainda conforme o senador, depois da liberdade, a segunda grande perda com o golpe de 1964 foi exatamente a interrupção das reformas. No caso da reforma agrária, avaliou, se tivesse sido feito à época as capitais não teriam se transformado em “monstrópolis”, pressionadas pelo deslocamento do campo de pessoas em busca de empregos que terra não oferecia.
Publicado em Geral na Edição Nº 14671
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