Diariamente assistimos a propaganda do governo federal através do seu órgão máximo o Ministério da Educação, anunciando/vendendo uma imagem do Novo Ensino Médio, com a intenção clara de obter a aprovação e o consentimento tácito de uma proposta que proclama a inovação quando na verdade representa um retrocesso de um tempo passado na história do país que para muitos seria melhor que fosse apagado da memória, a ditadura militar. O ano foi o de 1971 quando se deu a reforma do ensino primário e médio, transformando-os no ensino de 1º e 2º graus, impondo o ensino profissionalizante, regulamentado pela Lei Nº 5.692 de 11 de agosto de 1971, historicamente, a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN. A reforma educacional teve como relator do grupo de trabalho o representante do governo militar no Conselho Nacional de Educação, o Conselheiro Valnir Chagas. A leitura pelos movimentos de base, que lutavam desde anos em favor da escola pública, universal e gratuita, sobre as medidas educacionais previstas por essa lei, como a obrigatoriedade da “qualificação para o trabalho”, ficou clara, como sendo a de um “ensino geral para os nossos filhos (elite condutora) e o ensino profissional para os filhos dos outros (classe trabalhadora)”, como recorda Dermeval Saviani, legitimando as desigualdades entre as classes, com uma educação desigual para pobres e ricos. Certamente que para os jovens estudantes público alvo do Novo Ensino Médio essa é uma discussão complexa e difícil de ser assimilada no seu viés político e econômico, haja vista o contexto daqueles tempos em que se deram os embates na defesa de uma escola única para filhos de trabalhadores e da elite. Pelo fato de ainda não serem nascidos e seus pais, ainda jovens, não lembrarão ou guardarão registros de períodos tão difíceis onde a ditadura militar controlava censurava e restringia o debate de qualquer tema que fugisse a ideologia que propagavam.
Reeditando uma reforma nos mesmos moldes do governo militar e ampliando a coincidência do caráter golpista com que se instalou, o governo Temer, no ano de 2016 cava um abismo na educação básica, desconhecendo todos os avanços e conquistas da educação no cenário nacional. Com a mudança retrógrada que nomeou de (Contra) Reforma do Ensino Médio, provocou intensas e diversificadas reações na comunidade de educadores, professores pesquisadores e estudantes do país inteiro. O governo errou no método e no conteúdo. O tema – educação - que geralmente envolve toda a sociedade em suas discussões que chegam a levar anos de debate, sofreu desconstruções autoritárias mediante a edição da MP Nº 746 de 22/09/2016, que “instituiu a política de fomento à implementação de escolas de ensino médio em tempo integral”, transformada na Lei de Nº 13.415 de 16/02/2017 que, ferindo  princípios democráticos constitucionais, substituiu dispositivos da LDBEN Nº 9.394 de 20/12/1996 e da Lei Nº 11.494 de 20/06/2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação- FUNDEF. Essas leis que são viscerais para a educação e o ensino foram alteradas sem consulta às entidades que representa.
É preciso despertar esses jovens e esclarecer que uma reforma do ensino médio, em pleno século XXI, com o atual desenvolvimento dos processos produtivos e da tecnologia, nos moldes em que foram editadas por um governo ilegítimo, que assumiu o poder através de um golpe político, reeditar o ensino profissionalizante versus educação profissional no momento presente, significa impor um atraso de 46 anos, comparada à reforma do Ensino de 1º e 2º graus, que, diga-se de passagem à época dessa reforma já se mostrava  relativamente atrasada em relação ao estágio da economia da sociedade brasileira na década de 1970. Face às políticas econômicas anunciadas para os próximos 20 anos não haverá garantia de escolas públicas dignas. Convocamos, portanto, professores, pais e estudantes para retomarem esse debate nas escolas. 
 
Marise Piedade Carvalho, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática é professora de educação do Instituto Federal do Maranhão IFMA, Campus Monte Castelo.