Vladimir Platonow
Agência Brasil
O agravamento dos conflitos atuais vem colocando em risco profissionais de saúde que atuam nas frentes de batalha, tornando ainda mais difícil o trabalho de entidades humanitárias, como o Médicos Sem Fronteira (MSF) e outras semelhantes. O alerta foi feito pela diretora-geral da organização no Brasil, Susana de Deus, que participou ontem (3) do lançamento do Guia de Fontes em Ajuda Humanitária, no Rio de Janeiro.
Dirigido a jornalistas, o manual traz os contatos de organizações, agências multilaterais e órgãos governamentais atuantes em cenários de guerra, seja em campo ou em fóruns internacionais, e de pesquisadores em centros de estudos e universidades no Brasil especializados em temas relacionados à ajuda humanitária.
“Nosso principal desafio é a complexidade dos conflitos atuais, a dificuldade de acesso às populações, muitas delas encurraladas entre várias frentes de combate. Há também o desafio da falta de segurança nos Estados que não respeitam o direito internacional humanitário e que continuam a bombardear hospitais, mercados e localidades com civis”, disse Susana.
No ano passado, ocorreram 50 bombardeios e ataques de artilharia contra 21 hospitais do MSF ou a instituições apoiadas pela entidade, sendo 19 na Síria e dois no Iêmen. Em 2015, o quadro foi ainda mais grave, com 106 bombardeios e ataques a 75 hospitais próprios ou apoiados pelo MSF, dos quais 63 na Síria, cinco no Iêmen, cinco na Ucrânia, um no Afeganistão e um no Sudão.
“O que está acontecendo hoje é extremamente grave. Nos últimos dois anos, morreram vários profissionais de saúde, e não só do Médicos Sem Fronteiras. Na Síria, foram mortos tantos médicos que as cidades ficaram sem acesso à saúde”, disse Susana, que é portuguesa e há quatro anos mora no Brasil.
Segundo a diretora da organização, a receita para trabalhar em condições extremas de segurança é seguir um protocolo baseado em logística que garanta o atendimento mesmo em regiões com guerras abertas.
“Temos equipes e protocolos de atenção médica bastante organizados e rígidos, boa logística e supervisão de nossos profissionais, o que nos assegura um bom trabalho sob condições extremamente precárias em muitos países. São áreas difíceis de trabalhar, que requerem segurança em relação a áreas onde podemos, ou não, circular. Isso requer muita logística e análise de contexto”, afirmou a médica.
“O MSF é uma organização composta por médicos extremamente apaixonados, cujo trabalho exige muita proximidade com o paciente, um contato direto com a população. Isso cria uma empatia muito forte com o sofrimento de quem estamos ajudando”, disse Susana.
A organização tem cerca de 35 mil colaboradores no mundo – 29 mil trabalhando diretamente nas frentes humanitárias em 70 países. A entidade sobrevive de doações, mas não aceita verbas dos países diretamente envolvidos nos conflitos. É uma forma de garantir sua independência. Outras informações podem ser acessadas na página da entidade na internet.
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