Por Paulo Henrique Gomes
Provavelmente você já recebeu algum conteúdo através das redes sociais ou de aplicativos para celular e se questionou: “será que isso é verdadeiro?”. A realidade é que muitas pessoas compartilham notícias ou materiais recebidos sem verificar a veracidade dos arquivos, que muitas vezes são falsos. E isso, às vezes por inocência ou falta de conhecimento, está dificultando o trabalho dos profissionais da área da saúde.
Desde que um novo surto de febre amarela atingiu o Brasil, no primeiro semestre de 2017, pessoas de diversas localidades se dirigiram às unidades de saúde para se vacinar contra a doença. No entanto, diversas notícias compartilhadas, principalmente no WhatsApp, trouxeram medo e confundiram muitas pessoas.
Segundo o pesquisador do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS), Igor Sacramento, os boatos na área da saúde, principalmente relacionados às vacinações, são antigos no país: “Os boatos com relação à vacina, eles fazem parte da história da imunização no Brasil”, disse. Sacramento citou os casos de vacinação contra a gripe para idosos, em 2000, e mais recentemente contra contra HPV, em 2014, e contra H1N1, em 2016, como exemplos de campanhas que também sofreram com boatos. “Essa coisa de que o governo quer matar as pessoas para diminuir a população brasileira. Isso sempre aparece”, afirma.
A propagação de notícias falsas avançou de forma significativa com o avanço da tecnologia, que facilitou o acesso e aumentou o alcance dos conteúdos. “Essa é a grande transformação contemporânea da circulação desses boatos. Antes esses boatos ocorriam, eles existiam, mas eram mais em comentários com a família, com amigos. Agora eles têm uma outra dimensão por causa da internet”, afirma Sacramento. Segundo ele, a tendência é que isso aumente ainda mais ao longo do tempo: “A tendência é aumentar. Isso não cabe a nós o controle, não tem como. O que nós temos que fazer é entender a lógica. Nós vivemos em um interativo comunicacional onde todo mundo está buscando estar conectado nas redes sociais, no WhatsApp”, afirma.
Para Sacramento, outros fatores contribuem para a presença e propagação dos boatos, como a própria cultura do povo brasileiro, que gosta de se comunicar, e a falta de credibilidade das instituições. “Nós temos uma cultura baseada na oralidade, na persualidade, na intimidade. E por outro lado, tem uma crise nas instituições e no sistema de confiança nas instituições”, disse.
Sacramento também destaca que, conteúdos que possuem relatos de pessoas que passaram por experiências negativas - muitas vezes não verídicas - costumam impactar mais o público. “O que eu achei muito curioso em relação às fakes news, a esses boatos, é o relato de experiência em comunidades no Facebook, em vídeos no Youtube. Pessoas compartilham no WhatsApp. É muito forte o relato de experiência. Pessoas que tomaram a vacina, ou os filhos da pessoa, relatam experiências desastrosas, complicadas, com efeitos adversos. Isso tem um apelo muito forte, com persuasão. As pessoas creem em quem está relatando”, destaca. Outro aspecto relevante, segundo Sacramento, está na forma como os materiais são feitos. Além do conteúdo, esses boatos são feitos de forma profissional, através de vídeos bem editados ou textos bem escritos e altamente persuasivos: “Eles têm uma nova roupagem. São muito bem feitos. Parecem reportagens de jornal, vídeos que parecem matérias televisivas”, afirma.
Para Sacramento, para concorrer com essas notícias falsas, as instituições devem criar estratégias eficazes de comunicação com o público, principalmente através das redes sociais: “É necessário que se criem novas estratégias. Estratégias que possam concorrer com esses boatos e utilizar cada vez mais as redes sociais online e particularmente o WhatsApp”, afirma. Segundo ele, os órgãos devem capacitar seus profissionais da área da comunicação para que possam estabelecer um diálogo aberto e que transmita confiança para o público: “Eu acho que para amenizar isso são dois movimentos. O primeiro é o das redes sociais online. O primeiro movimento é tentar entender. Nas instituições, na comunicação, ainda estamos acostumados com os paradigmas da comunicação de massa. Então ainda fazemos comunicação pensando nos veículos de comunicação de massa. Acho que há novidades e especificidades que são próprias desses outros espaços de produção de comunicação”, disse.
Sacramento defende que a principal forma de concorrer com os boatos é produzir conteúdos informativos que atraiam a atenção das pessoas: “Essa informação tem que ser qualificada. Então nós, do ponto de vista de instituições de saúde, também temos que produzir informações para que as pessoas possam, ao pesquisar, nos achar também”, afirma. Outra sugestão de Sacramento consiste em uma comunicação interna mais eficiente entre os órgãos públicos e instituições subordinadas: “Há momentos em que essa comunicação tem que ser integrada”, defende. Ele também defende que os órgãos devem interagir e responder o público, principalmente via redes sociais, que é o canal de comunicação mais utilizado atualmente: “A pessoa não se sente participante. Nós vivemos em uma sociedade onde as pessoas querem ser participantes. Elas querem interagir. Tem que ser feito um trabalho para responder, mas não só com respostas prontas. Tem que responder, tem que atuar. Não pode deixar aquilo em silêncio”, afirma.
Segundo Sacramento, outra dificuldade está presente nos veículos de comunicação de massa, como televisão e rádio. Para ele, apesar de muitas pessoas terem conhecimento de campanhas na área da saúde através desses meios de comunicação, eles priorizam acontecimentos trágicos e geralmente negativos em sua programação: “Não devem noticiar só a morte, que é um momento extremamente sensacionalista, mas também a importância da vacinação”, defende.
Não há como definir qual é a motivação das pessoas que criam notícias falsas na área da saúde. Para Sacramento, a principal influência está em pessoas que são contra qualquer espécie de vacinação e pessoas contrárias ao governo: “Têm pessoas que são contra a vacinação. É um movimento que vem crescendo no Brasil. É uma questão mais de estilo de vida. E aparece um pouco, mas existe, a questão do governo”, afirma.
Diante disso, é fundamental que cada setor faça a sua parte no combate às notícias falsas, que, a cada dia, são compartilhadas. O ideal é que os órgãos públicos, principalmente na área da saúde, devem capacitar seus profissionais do setor de comunicação para que sejam desenvolvidos conteúdos informativos para competir com as notícias falsas. Cada um deve se atentar e verificar se os conteúdos recebidos e compartilhados via redes sociais ou aplicativos para celular são verdadeiros. (Agencia do Radio Mais)
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