Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
(Cora Coralina)
Há 30 anos, a escritora Cora Coralina voltou a ser o que os poetas denominam “pó de estrela”, com seu falecimento em Goiânia, no dia 10 de abril de 1985. Para celebrar sua vida e obra, que permanece latente, a atriz e escritora maranhense Lília Diniz realiza nova circulação do espetáculo solo Cora Dentro de Mim - Plantando Roseiras & Fazendo Doces. Contemplada pelo Prêmio Funarte Myriam Muniz/2014, a circulação passará pelo Distrito Federal e Goiás, nos meses de agosto e setembro. A turnê será iniciada pela cidade natal de Cora, a Cidade de Goiás, durante as comemorações do Dia do Vizinho e do aniversário de nascimento da poeta, em 20 de agosto. Depois, segue em cartaz por Brasília e Planaltina (DF), Pirenópolis e Goiânia (GO).
Desde o ano 2003, Cora Dentro de Mim percorre teatros, escolas, saraus, congressos, cafés e eventos literários pelo Brasil. Baseado na obra da escritora goiana, o espetáculo procura remeter a plateia à cozinha onde a velha doceira recebia suas visitas, recitava seus poemas e contava suas histórias.
Para Lília Diniz, percorrer com o espetáculo é contribuir para a divulgação da poesia de Cora Coralina entre as novas gerações, manter viva a chama de sua doce poesia, utilizando o teatro como ferramenta artística de sensibilização e fruição, contribuindo ainda para a preservação e divulgação do patrimônio cultural material e imaterial do Brasil.
Trazendo para a composição um fogão artesanal real - no qual a atriz faz doces em cena -, o espetáculo é essencialmente pautado na simplicidade, como simples são os versos da escritora doceira. Dois músicos executam a sonoplastia ao vivo, trazendo elementos da cultura musical goiana, com a viola, e da música nordestina, com rabeca e pífanos. Segundo Cora, sua matriz cultural, suas duas metades: “Da parte materna, sou mulher goiana descendente de portugueses. Do lado paterno, minha metade nordestina, eu um pouco cangaceira”.
Dramas pessoais, história, folclore linguístico, culinária, comportamentos e muito mais é registrado na obra da escritora, que fez da sua jornada literária uma luta constante pela afirmação de sua identidade, da renovação constante da força de mulher e no enfrentamento aos preconceitos da época que muito lhe oprimiram. Cora, sobretudo, deixou beleza e humildade pelos caminhos dos doces, da poesia e da prosa, que têm despertado o interesse de dramaturgos e cineastas, tornando a obra da escritora goiana cada vez mais conhecida.
Elenco e direção
A equipe do espetáculo é formada por artistas residentes em Brasília e que bebem de fontes da cultura popular e do teatro. A direção do espetáculo é assinada pelo ator e diretor Adeilton Lima, que traz um longo currículo nos caminhos do teatro e da poesia. A direção musical é assinada por Maísa Arantes (Mestre Zé do Pife e as Juvelinas) e Léo Terra (Mambembrincantes), que compõem a cena, ao vivo, com a atriz Lília Diniz. A concepção de luz é do iluminador Miltinho Alves e o cenário é assinado pelo cenógrafo e bonequeiro Miguel Mariano (Mamulengo Gratidão).
Lília Diniz
Artista maranhense. Nasceu no Meio-Norte, na faixa de transição entre a Amazônia e o Sertão nordestino. Foi alfabetizada artisticamente pela literatura de cordel. Há mais de 10 anos interpreta autores consagrados, como Patativa do Assaré, Cora Coralina e Louro Branco, além de canções de João do Vale, Maria da Inglaterra, Marinês, entre outros. É formada em Artes Cênicas, pela UnB, Pós-graduada em Gestão Cultural, membro da Academia Imperatrizense de Letras (MA) e da Academia de Letras do Brasil/Brasília. Possui seis livros publicados: “Babaçu, Cedro e Outras Poéticas em Tramas”, “Miolo de Pote da Cacimba de Beber”, “Sertanejares”, “Ao que Vai Chegar”, “Mula sem Cabeça” e “Mundo de Mundim”.
Cora Coralina
Cora Coralina era o pseudônimo de Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas. Foi contista, cronista de tempos passados e presentes. Nasceu na cidade de Goiás, antiga Villa Boa de Goyaz, em 20 de agosto de 1889. Publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade e continuou lúcida até quase os 96 anos, quando morreu em 1985. Ficou famosa quando Carlos Drummond confessa que os poemas de Cora o tocavam profundamente.
Versos não, poesias também não.
Apenas um jeito diferente de contar velhas histórias.
(Cora Coralina)
Comentários