Ontem (17), ao acessar o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, o paraense Vinícius Adriano Amaral surpreendeu-se com o resultado. Ele é um dos 53 participantes que obtiveram nota mil na redação, a nota máxima, em todo o país. "Bateu uma  ansiedade nos últimos dias. Antes de sair a nota, a gente sempre sofre. Pelas estatísticas, a gente vê que é muito difícil conseguir. Fiquei muito feliz", diz.
Na prova, que tinha como tema Democratização do acesso ao cinema no Brasil, Amaral defendeu ingressos mais baratos e maior incentivo por parte do poder público para que mais pessoas possam frequentar salas de cinema. "Aqui em Belém, eu frequento o Cine Líbero Luxardo. Eu usei esse projeto do Governo do Pará como exemplo do que o governo está fazendo para mudar a realidade da falta de democratização", conta.
Vinculado à Fundação Cultural do Estado do Pará, fundado em 1986 para valorizar o cinema de arte e de rua em Belém, o cinema tem ingressos a R$ 12 a inteira. O nome  é uma homenagem a um dos pioneiros do cinema na Amazônia. "Ainda tem muito a ser desenvolvido no país [para a democratização do cinema]", defende.
O estudante citou também o livro Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, que trata de uma epidemia que deixa cegos os habitantes de uma cidade, e comparou a cegueira retratada no livro à falta de sensibilidade às dificuldades no acesso à cultura no país. "Há uma falta de mobilização da população em relação à democratização", diz. 
Outra obra citada por Amaral foi A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, que mostra um garoto pobre, que vive em uma estação de trem em Paris, que acaba tendo acesso ao cinema de forma inusitada. 
Amaral acredita que todo esse repertório ajudou na hora da nota. "Eu acho que o principal ponto é, após conhecer a estrutura de uma redação do Enem, focar em repertórios muito bons. Assistir filmes, assistir séries. Muita gente acha que tem que usar um repertório de filosofia, e outros eruditos. Às vezes, o diferencial é trazer um filme, um projeto local ou uma citação literária. Isso ajuda a mostrar que se tem conhecimento em várias áreas".

Preparo 

Para se preparar para o exame, além de frequentar a escola, Amaral foi aluno no Curso de Redação Professora Nicinha Câmara. Ele chegou a escrever dois textos por semana durante o ano.  
"Sempre instigamos [os alunos] a fazerem, refazerem os textos, sempre buscando o melhor", diz a dona do cursinho e professora, Nicinha Câmara. "Para o Enem, tem que treinar arduamente, semanalmente. Sempre buscar reconstruir esse texto se não estiver a contento. Se não conseguem nota, tem que refazer, porque isso vai levar à melhora", diz.   
O estudante terminou o ensino médio no ano passado. Agora, ele quer cursar medicina. Apesar de tirar a nota máxima na redação, ele acredita que não obteve pontuação suficiente nas demais provas, mas que seguirá tentando. "Tirar essa nota na redação ajuda muito para tentar novamente esse ano. Isso acaba proporcionando uma visibilidade e uma possibilidade de desconto em cursinhos", diz. 
(Agência Brasil)