Carlos Nina*
O agronegócio é como aquelas pessoas a quem os outros ou amam ou odeiam. Muitas vezes sem saber o porquê. Nem sabem exatamente o que isso significa. Tomam o todo por uma parte ou vice-versa. Ou simplesmente surfam na onda que mais os atraem.
De acordo com o Mini Aurélio, agronegócio é um termo da área de Economia e significa a atividade da cadeia de produção rural e de comercialização de seus produtos e serviços. De acordo com a onisciente Wikipédia, no Brasil “o termo é usado para se referir às grandes propriedades monocultoras modernas que empregam tecnologia avançada e pouca mão de obra, com produção voltada principalmente para o mercado externo ou para as agroindústrias e com finalidade de lucro.”
Ou seja, ao termo foi agregada uma carga negativa, por significar grande propriedade, usar tecnologia avançada, dispensando grande quantidade de mão de obra, visar o mercado externo, indústrias e lucro, como se isso, por si só, fosse um mal.
Não é relevante para esta análise entrar no mérito do conceito ou da adjetivação adotadas pelas partes em litígio, de um lado ou de outro. Fato é que todos convivem com o agronegócio porque, afinal, no seu conceito original, existem e são inevitáveis as atividades da cadeia de produção rural e de comercialização dos produtos e serviços que gera.
O problema começa quando defensores e acusadores do agronegócio perdem aquilo que todos dizem que têm na medida certa: bom senso. O bom senso recomenda que toda análise seja feita com honestidade, sob pena de não ser uma análise, mas um engodo, uma falácia, um sofisma, um arranjo qualquer para forjar um fundamento e sobre ele construir falsas “verdades”.
Identificar o agronegócio com a produção de insumos, especialmente defensivos agrícolas ou produtos tóxicos de qualquer natureza é não saber do que está falando. Mas ignorar ou minimizar irresponsavelmente os efeitos desses produtos é má-fé.
Isso sem falar na falta de coerência daqueles que combatem o agronegócio, mas não dispensam os bens por ele produzidos. É como aquele nutricionista que faz uma palestra sobre alimentação sadia e no coffee break não dispensa o refrigerante e os salgadinhos. Ou as escolas que ensinam as crianças a se alimentar saudavelmente, mas lhes oferecem em suas lanchonetes, além de refrigerante e salgadinhos, bombons e todo tipo de guloseimas que lhes causarão as enfermidades das quais seus professores devem falar, alertando-os exatamente contra esses hábitos estimulados na própria escola. Ou, ainda, os professores de direito ambiental, que fazem belos discursos em defesa do meio ambiente e mandam os alunos buscarem o material da disciplina no setor de cópias, em quantidade absurdamente inútil, assim como todos os outros.
Antes, portanto, de uma condenação do agronegócio, que seus acusadores vejam o que estão vestindo, calçando ou portando; onde estão sentados e do que estão se servindo. Será que não estão usufruindo de produtos do agronegócio?
Quanto ao lucro, afinal, qual o objetivo de quem monta um negócio?
Nada do que está dito acima significa dizer que o agronegócio é um bem ou um mal. O que o agronegócio, assim como qualquer outra atividade, precisa é de regulamentação, de fiscalização, porque nem todos os povos têm a mesma cultura. E alguns precisam ser mais fiscalizados do que outros, por falta de educação. No Brasil, até o fiscal precisa de fiscalização.
O exemplo de Mariana está aí, num mar de lama do interior de Minas Gerais até o largo da costa do Espírito Santo.
O agronegócio é um conjunto de atividades lícitas, como inúmeras outras, nas quais são cometidos excessos que afetam o meio ambiente e põem em risco a saúde da coletividade. O que falta é bom senso para quem abusa nessa cadeia, assim como para quem a condena, sem se dar conta das novas circunstâncias em que vivemos.
* Advogado
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