Entre os milhares de jogadores dos 127 times que participam da 51ª edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior, um jovem deixou uma tribo no interior do Maranhão, percorreu mais de dois mil quilômetros e venceu inúmeras adversidades pelo sonho de tornar-se jogador de futebol profissional.
O lateral-esquerdo Robson Paapur Krikati, de 19 anos, mora na aldeia indígena Krikati Jerusalém, em Montes Altos, no Maranhão. Em 2012, com apenas 12 anos de idade, deixou a tribo pela primeira vez para realizar um teste em uma equipe amadora de futebol.
“Fiz um teste no Cavalo de Aço, passei e me chamaram para treinar. Meu pai, que sempre me apoiou, me levou e fui jogando nas categorias de base: sub-13, sub-14, sub-15 e, com 14 anos, fui para o Velo Clube jogar o Campeonato Paulista, mas não deu certo. Acabei voltando e minha família não deixou mais voltar para São Paulo. Fiquei um tempo parado na aldeia, jogando por lá apenas, quando surgiu a peneira do Grêmio. Fiz o teste, avancei para realizar mais testes em Porto Alegre, mas dessa vez fiquei apenas uma semana e não fui aproveitado”, relembra.
Após não conseguir continuar no Grêmio, Robson ficou atuando no futebol amador do Maranhão. Em nova tentativa, acabou reprovado em um teste na Ponte Preta. Agora, com a chance de defender o time do próprio estado na maior competição de base do país, a ideia é poder aparecer de vez para o cenário nacional.
“Para um índio não é fácil de sair da aldeia. Aprendi com dificuldade o português, não foi fácil, desde os 12 anos saio de lá, e quando me perguntam algo, fico calado. É difícil sair da aldeia, porque a saudade é grande, mas tenho que buscar meu sonho. Meu pai me falava que não era para desistir, nunca desisti e agora estou aqui buscando o sonho”, explica.
E como é a vida de um jovem que mora em uma aldeia e que busca ser jogador profissional? A tecnologia chegou e ajuda os garotos a sonharem em um dia repetir o que os ídolos fazem ao redor do mundo.
“Lá o pessoal gosta do Cristiano Ronaldo, Messi, esse tipo de jogador. Agora tem televisão na aldeia, tem tudo lá. Eles assistem todos os jogos e o que mais tem é flamenguista. Agora tem TV a cabo, eles assistem todos os jogos e gostam muito de futebol, de esportes. Só que fora da aldeia ninguém vê, porque tem que sair de lá para jogar”, conta.
Mas entre os inúmeros jogadores que sonham com uma oportunidade, poucos conseguem desenvolver uma carreira profissional. Além disso, pouquíssimos ostentam salários milionários. Para o índio Robson Paapur Krikati, os estudos serão a solução caso não consiga realizar o sonho no futebol.
“Caso não vire jogador profissional vou estudar, concluir o Ensino Médio, tentar entrar na faculdade e trabalhar em alguma coisa. Mas o que gosto de fazer é jogar futebol, é o que sei fazer. Se não der certo, tenho que estudar e manter a cabeça erguida para não desistir”, finaliza.
Publicado em Esporte na Edição Nº 16545
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