Fabiano de Abreu: Quem nós somos, a nossa identidade, a nossa própria alma

De que trata a linguagem? O que ela representa? Por que ela existe? Um estudo filosófico e antropológico pretende mostrar que a linguagem é mais do que comunicação, e sim a capacidade que tem um povo de criar uma forma verbal aos seus sentimentos e pensamentos.
O filósofo Fabiano de Abreu tem procurado mostrar, através de suas reflexões e estudos que a linguagem está ligada, na verdade, a quem nós somos, a nossa identidade, a nossa própria alma. Para ele, a nossa alma, ao tentar comunicar-se com o mundo exterior, veio a condensar-se em formas de som articulado, em palavras gráfica e sonoramente originais, como matéria prima para as obras escritas e cantadas de nossos escritores, poetas e cantores, onde nota-se uma empírica compreensão da vida e do que representa o povo português em sua essência, assim como seu legado pelo mundo e nosso idioma. 
Fabiano de Abreu considera que a linguagem é obra da natureza e do homem; das coisas falam à nossa sensibilidade, convertida em som articulado; isto é, transborda nossas emoções, vivências e sentimentos: "A origem da língua portuguesa está ligada ao sentimento e as emoções. Tanto dos que partiram, como dos que ficaram a esperar os que partiram voltar. Dos que desbravaram, dos que tiveram coragem, e dos que deixaram, saudade. O português, inclusive, é a única língua a existir uma palavra tão única para um sentimento tão especial, que vai além do "sentir falta", e que é intraduzível em qualquer outro idioma".  
O português, na melancolia do seu fado, e nos versos de seus poetas, não deixa dúvidas do motivo pelo qual "saudade" só faz sentido em nosso idioma: "o nosso idioma tem toda referência marítima, do mediterrâneo, de tantas emoções e sentimentos dos que partiram, dos que ficaram e esperaram os que partiram, dos que arriscaram-se, desbravaram dos que tiveram coragem e do motivo que criamos a palavra saudade". 
E se as coisas nos falam, também nos falam os nossos sentimentos, para serem nomeados e adquirirem expressão vivente: "O português vem do latim, que vem do Império Romano. Falamos um idioma que veio do latim vulgar, que era o latim dos soltados, da população mais pobre e dos agricultores, que representava a sua grande maioria. Apesar dos árabes terem dominado a maior parte do país, não prevaleceram sua cultura e idioma, assim como não prevaleceu a língua dos povos germânicos que por muito tempo dominaram o norte de Portugal. O português como lingua expressa a força, a identidade e a alma portuguesa, essencialmente um auto-retrato, um retrato falado de quem somos". Conclui Fabiano.