*Elson Araújo
Entre as funções emanadas do “poder” que vem do povo - Executiva, Legislativa e Judiciária - nenhuma é mais desafiante do que a Executiva, seja nas esferas Federal, Estadual e Municipal. Acompanho isso bem de perto aqui em Imperatriz, que, na verdade, com as devidas proporções, termina sendo um reflexo do que ocorre Brasil a fora.
Fácil constatar, vejo eu, que na condução da coisa pública o gestor precisa se “equilibrar em três linhas”: a primeira é a da legalidade, a segunda é a do interesse público, e a terceira a do(s) interesse(s) de terceiros que por não representar a necessidade maior da comunidade, muitas vezes termina em conflito com o interesse público.
Outra observação facilmente detectada é a de que todos querem uma cidade limpa e organizada, com a ressalva de que não venham a sofrer nenhum tipo de demanda. Em suma, uma grande quantidade de munícipes nega-se ou reage negativamente quando instado a fazer a sua parte nesse “contrato”. Nem citaria o pagamento regular do IPTU - Imposto Territorial Urbano, mas um gesto dos mais elementares, como o de “limpar a própria porta” ou ali plantar uma árvore, formar um jardim. Gestos simples, porém nobres e que, se fossem seguidamente executados, deixariam a cidade mais bonita.
O País, o Estado, o município, o bairro, o quarteirão, precisam de todos que se expõem como cidadãos no sentido amplo, e não somente como aquele que só se apresenta como tal quando tira o titulo de eleitor. O exercício da cidadania perpassa, portanto, o ato de simplesmente votar e de ser votado. Ser cidadão é muito mais do que isso.
Historicamente o conceito de CIDADÃO sempre esteve ligado à noção de direitos e foi enraizado de tal maneira que muitos cidadãos esquecem que a mesma expressão abriga também os deveres e obrigações com o ambiente em que vivem. Não basta morar, tem de participar, cuidar, zelar. A sociedade exige atualmente não só o ser que vota, mas o que participa, vive e ajuda a transformar para melhor o ambiente em que vive.
Ao prosseguir neste raciocínio, perceberemos que uma cidade é um organismo. Tem “pulmão, artérias, veias e coração; cabeça, tronco e membros. Também se emociona, se alegra e fica triste; chora e ri” e como todo organismo vivo, naturalmente precisa de cuidados, e esse cuidado tem de partir não só de quem a dirige, mas de quem dela faz uso, tira seu sustento, ganha seus dinheiros e nela vive.
Aqui, mais uma vez, peço vênia ao jornalista Edmilson Sanches para usar aqui uma de suas frases. “Cidadão não é quem mora na cidade, mas quem deixa a cidade morar nele”.
Não sei o que jornalista quis dizer na ocasião em que proferiu tão feliz frase, mas ao nosso modo vamos tentar decifrar e ver no final no que vai dar.
Iniciemos pelo verbo MORAR. Do latim, morar, significa ficar, viver, viver habitualmente, residir, habitar. Como se percebe, a palavra por si se explica, se esclarece, se elucida. Feita essa inicial, passemos aos substantivos cidadão e cidade.
Existem muitos conceitos sobre o que vem a ser cidade, mas na coluna de hoje, para uma compreensão mais profunda, preferimos pesquisar a origem etimológica da palavra, assim como já o fizemos com o verbo MORAR. Pois bem, encontramos que tal palavra vem do latim CIVITA, que abriga vários significados, entre eles: reunião de cidadãos, nação, pátria, foro, direito de cidadão e povo da cidade.
O substantivo CIDADÃO, de igual modo, tem sua origem também em CIVITAS (cidade), porém com um significado mais abrangente, como por exemplo, o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive.
Mais voltemos à frase, origem dessas linhas. “Cidadão não é quem mora na cidade, mas quem deixa a cidade morar nele”. Embora não grafada, dela se extrai mais um verbo que vem a se juntar ao MORAR e aos substantivos CIDADE E CIDADÃO: trata-se do verbo CUIDAR que, segundo se sabe, vem do latim cogitare, que vem a ser pensar, cogitar. Ter cuidados com uma situação ou pessoa, e que envolve pensamento e planejamento.
Cuidar lembra CUIDADO que, segundo os clássicos da filologia, deriva do latim cura, o que expressaria uma atitude de doação, preocupação e de inquietação por aquilo que se ama. E é essa inquietação que nós imperatrizenses precisamos ter e sentir. O cidadão não deve se encerrar apenas no título, mas numa posição permanente do amar, amar a cidade.
Compreendemos, portanto, no verbo CUIDAR, uma vez entronizado no ser social, um motivador, um indutor do cidadão, e que deve ser conjugado durante toda nossa existência. Um verbo que se confunde com a vida, com o viver.
Cuidar da saúde, do meio ambiente, da família, das plantas; cuidar de quem e do que se ama; da vida espiritual, da empresa, das relações interpessoais, essas cada vez mais difíceis, e cuidar da cidade onde moramos. Quem ama de verdade cuida de verdade. Que não ama, não cuida, só explora.
Imperatriz é esse organismo vivo que ao longo dos anos tem sido muito explorada e pouco amada. Aqui e acolá uma declaração de amor sem sabor, ou um gesto concreto isolado. Se navegar é preciso, como dizia o poeta, também é preciso amar a cidade. Talvez tenha sido esse o sentido da frase do Sanches, o do cidadão (CIVITA) amar a cidade (CIVITA) e, por conseguinte cuidar melhor dela, amá-la.
Aliás, AMAR, outro importante verbo, deve marchar sempre com o CUIDAR, já que um completa o outro.
Elson Mesquita de Araújo, jornalista.
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