Desde o final de julho que os imperatrizenses, domiciliados geograficamente nos limites das onze paróquias de nosso município, acolheram a imagem e os ensinamentos de Santa Teresa D’Ávila, nossa padroeira.
O dia quinze de outubro é aguardado com muita ansiedade pelo povo de Deus, que comenta em todos os lugares o festejo da Santa. A cidade se enche de novo vigor, as pessoas se alegram. É a festa da cidade. É a festa da padroeira de Imperatriz. É tempo de refletir e aprofundar a vida a partir da revelação da Palavra de Deus vivida por Santa Teresa.
Este ano a coordenação dos festejos escolheu como temática: Vivenciando os ensinamentos de Santa Teresa.
Para vivenciar seus ensinamentos precisamos recorrer aos seus escritos, particularmente as três obras mais importantes: Livro da Vida, Caminho de Perfeição e Castelo Interior. Seus escritos são frutos da experiência da Graça de Deus em sua vida. Teresa experimenta a graça, explicita, comunicando esta graça com o seu jeito de viver.
O fundamento de sua experiência mística espiritual é o amor incomensurável pela Bíblia que para ela é proverbial. Ela mesma afirma: “todo o mal que existe no mundo é por não conhecer claramente a Sagrada Escritura”. Teresa se dispõe a dar a vida por uma só verdade da Bíblia. Ama muito mais o evangelho que a literatura de sua época. Deseja conhecer a escritura para poder dizer em que consiste a união e poder exprimir os mistérios da vida espiritual. A vida é Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
No seu livro da VIDA, entre dois capítulos interessantíssimos sobre a oração e a vida, Teresa inseriu um longo capítulo, genial, polêmico, dedicado a afirmar a absoluta necessidade da humanidade de Cristo em todos os graus e momentos da vida espiritual. Trata-se do capítulo vinte e dois, uma espécie de grito Teresiano, de apaixonada Cristologia, no qual defende ao mesmo tempo a ortodoxia e a ortopráxis autenticamente cristã. Fé em Cristo, verdadeiro Deus, verdadeiro homem. Uma vida em Cristo, humana e divina, como é a sacratíssima humanidade do Senhor.
Em Cristo se encontra o segredo do testemunho de Teresa. Se a oração é um encontro de amizade, não é necessário recordar que para estabelecer um encontro necessitamos de amigos. A qualidade da amizade determina a possibilidade e o sentido da comunicação. O Deus de Teresa é Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Na realidade, a figura de Cristo domina toda a vida Teresiana. O seu primeiro encontro, que se tornou uma oração, aconteceu ainda na infância, através da contemplação de um quadro de Jesus com a samaritana no poço de Jacó. Teresa encontrou ali o Cristo do evangelho e iniciou como uma pequena samaritana o colóquio com ELE. Por muitos anos Teresa procurou Cristo, ao ponto de não nos surpreendermos quando encontramos o próprio Cristo procurando Teresa. Assim Jesus se faz presente em sua vida, para mostrar com o seu olhar a amizade destinada a santa.
Cristocêntrica é a conversão Teresiana, como foi a experiência de Paulo no caminho de Damasco. A entrada na vida mística acontece na mesma linha.
Jesus se oferece como mestre e livro vivo. É o prelúdio da fortíssima experiência mística cristocêntrica. Visões, palavras, presença do Senhor, até alcançar a realização de uma inefável simbiose com ELE na comunhão eucarística. É o inicio de uma nova relação que se tornará esponsal, com o Cristo da Glória, Luz da luz, no esplendor da magnífica visão mística. De agora em diante a Vida é Cristo.
O capítulo vinte e dois é testemunho e doutrina. Os acentos polêmicos, com que interpreta teologia e espiritualidade, revelam uma estranha paixão e uma firme segurança. Na humanidade de Cristo, que para Teresa é como uma necessidade biológica de confronto e de conforto para a sua humanidade, todo o humano vem santificado e valorizado: o corpo, o sentimento, até mesmo as nossas fraquezas. Mas na divindade de Cristo - a sacratíssima humanidade - se abre para o homem a possibilidade da divinização, da experiência sobrenatural.
O dogma fundamental da Igreja, no Concílio de Caledônia, vem novamente intuitivamente de Santa Teresa e numa prospectiva espiritual muito semelhante a dos padres da Igreja. Não se trata aqui de uma tese mais ou menos abstrata sobre contemplação mística e seu objeto. Nos encontramos aqui diante da possibilidade da salvação do homem por parte de Cristo verdadeiro homem, e da possibilidade de sua divinização.
Teresa nos ensina que a divina-humanidade de Cristo, torna-se absolutamente necessária para a vida espiritual em todos os seus graus e momentos, a autêntica forma de interpretação do misticismo cristão como realização da cristificação do homem. A mística Teresiana, assim equilibrada na aparente contradição entre humanismo e misticismo, natural e sobrenatural, interior e exterior, solidão e comunhão, amor de Deus e amor ao próximo, ascese e virtudes sociais, é tudo iluminada com relação a Cristo. Ele preenche as páginas da vida de Teresa como mestre, modelo, salvador e mediador, companheiro, esposo, amigo.
Teresa entrou em contato com o Cristo do Evangelho e assim o apresenta pela sua meditação e contemplação, vê no Cristo da Paixão e da Cruz o modelo incomparável de amor e fé e o apresenta como cume da vida cristã. Experimentou o Cristo Ressuscitado como seu Senhor e Mestre, companheiro do caminho da vida e o indica como um perene motivo de conforto e de alegria. Descobriu a presença de Cristo na Igreja e no próximo e o amou e serviu. Condensou sua fé no Cristo Eucarístico e nele colocou sua esperança, sua oração e seu amor.
Vivenciando seus ensinamentos, supliquemos “no teu santuário queremos pedir, ó Mãe, que abençoe a Imperatriz, que tua cidade, seguindo ao Senhor, viva na Justiça na Paz e no Amor.
E a escutemos: “Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança; Quem a Deus tem, nada lhe falta: Só Deus basta!”.
Dom Gilberto Pastana
Bispo da Diocese de Imperatriz.
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