Illya Nathasje
É mais que uma questão de detalhes que a vida se arruma e a história se constrói. A caminhada é uma alquimia. Brasil derrotado pelo Uruguai em pleno Maracanã na Copa de 50. Uma tragédia. Depois vieram, 1, 2, 3 títulos mundiais e uma Era de Ouro. Seria o escrete de 70 melhor que o de 50? A certeza que fica é o registro e não dá para comparar uma época em que a imagem só existia no papel e no ouvido, ao imaginário de cada torcedor. Tempos em que a bola passava “raspando o travessão”. Nos anos 50, era só jornal e rádio; nos anos 70 já havia televisão. Era possível ver.
Em 89, o Brasil ganharia a Copa América numa final contra o Uruguai. Suado 1 a 0. Escrevi à época, aqui em O PROGRESSO, no dia do jogo, que o importante era ganhar, nem que fosse com uma bola na trave ou um gol de mão. Melhor ainda, se fosse com um gol contra de qualquer jogador ou um frango do goleiro. Importante era vingar a tragédia que, nascido nos anos 60, não vivi e nela cabia a solidariedade ao grande Barbosa.
Depois do Maracanaço, era a primeira disputa contra a Celeste. Ganhamos no mesmo Maracanã, mas o sabor da vitória vivido por gerações diferentes não apagou o gosto amargo da derrota que ainda hoje se impõe e a qual gostaríamos de dar um ‘zap’, voltar no tempo, e jogar outra partida, reescrever a história. Sem chances! Se é pela derrota, é como na política, se joga por teimoso.
Assim, passado o tempo, depois do jogo como uma prorrogação, vieram o 4º e 5º títulos. Ousamos! Brasil 2014. De novo, uma Copa do Mundo em nossas terras. O raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mais que o nosso mantra, era a certeza da vitória. Felipão, o técnico do tetra à frente, com up-grade no rastro da Copa das Confederações. Neymar & Cia, era uma barbada. Até esquecemos que jogo é jogo e treino é treino, como imortalizou Didi e que a sina nos ensina, depois da tempestade virá a calmaria ou vice versa. 1ª Fase, Brasil 3, Croácia 1; Brasil 0, México 0 e Brasil 4, Camarões 1; Quartas de final, Brasil 2, Colômbia 1. Esses resultados nem eram assim tão bola cheia, ainda assim, caiu a tempestade: Alemanha 7 a 1. Perder pra Holanda de 3 a 0 na semifinal foi só uma sobremesa. Jiló é uma delícia, mas tem quem não goste. Disputar em casa não ajudou nem a ser vice. No nosso conceito, também ...
Depois daquele trágico 16 de julho de 1950, ao não menos, 8 de julho de 2014, chegamos hoje, 20 de agosto de 2016. Agosto é reconhecidamente um mês de tragédia no cenário nacional. Mas chega! Se quero pensar que não há mais tempestade pela frente, só resta desejar a bonança. Maracanã de novo e quis o destino ou a tabela, Alemanha. Aquele 7 a 1 foi no Mineirão, portanto o raio não caiu duas vezes no mesmo lugar. Agora é no velho Maraca, onde, quando tivemos a oportunidade, nos vingamos. Aí, como diria Nelson Rodrigues, é com os deuses do Olimpo. Esses, que até aqui não nos permitiram o Ouro Olímpico, nos dá mais que oportunidade da vingança, nos dá a oportunidade da vitória.
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