Hemerson Pinto
Cerca de 15 horas de estudo por dia durante mais de um ano. Uma prova realizada em quatro dias, em etapas com duração de quatro horas cada. Longe da terra natal, órfão de pai e poucas condições financeiras. Resultado: segunda colocação em nível nacional, na prova do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, ITA, no final de 2013. O menino, que hoje tem 18 anos, deverá chegar aos 23 como Engenheiro Militar.
A história não é tão simples de ouvir nem de ser contada. O imperatrizense Roger Leite Lucena (18) tem um irmão, Renner Leite Lucena, 16 anos. São filhos de Neuma Leite. A mãe deixou em Imperatriz o emprego de recepcionista e seguiu para Fortaleza-CE, com o filho mais novo, para acompanhar Roger.
Na capital cearense, a viúva trabalhou como ajudante em um restaurante com o salário de R$ 130 (cento e trinta reais) por semana. Pagavam aluguel. O que ficava era para a alimentação e algumas outras necessidades básicas. Neuma tinha a renda da casa que deixou alugada em Imperatriz e várias doações financeiras feitas pela irmã Norma e o cunhado Bruno Caudas.
No início de 2014, a família pode comemorar o sacrifício, vivido a princípio em Imperatriz, em grau maior quando mudaram para terras alheias. Com a média 7,65, Roger foi o segundo colocado em todo o Brasil na prova do ITA. O primeiro colocado, de Fortaleza mesmo, alcançou a nota 7,67. Uma prova difícil, segundo Roger, com 30 questões de matemática, 20 de português, incluindo literatura, redação, além de química, física e inglês.
Em 2012, quando mudou para Fortaleza, não conseguiu a aprovação. Também não desistiu. Com a chegada da mãe e do irmão caçula, o adolescente ganhou forças, estudou mais e virou noites acordado para ver o sonho se realizar no ano seguinte. Antes, Roger era aluno do Instituto Tecnológico do Maranhão (IFMA) e no 3º ano do Ensino Médio ganhou bolsa para o COC, por meio dos bons desempenhos em olimpíadas de diversas disciplinas e aprovações em vestibulares.
No currículo do rapaz uma aprovação em Engenharia Civil (2º lugar), uma em Medicina (3º lugar), outras duas vezes para Medicina, aprovado em Física (1º lugar), 4º lugar em uma escola naval no Rio de Janeiro, 9º lugar na Escola de Preparação para Cadetes do Exército, e enfim o ITA. “A mãe foi sempre quem nos estimulou a estudar, desde quando a gente estava aprendendo a escrever e ela ali, estudando com a gente”.
A ida de Roger para Fortaleza, por conta dos bons resultados nos estudos em Imperatriz, não aconteceu por acaso. Ele insistiu, enviou currículo para a Escola Farias Brito, que tem turma preparatória para quem deseja passar na prova do ITA. Ganhou bolsa e teve os passos seguidos pelo irmão Renner, que também sonha em ser Engenheiro Militar da Aeronáutica.
“Comecei a me dedicar e meu irmão conseguiu uma bolsa pra mim na Farias Brito. Estudei no mesmo ritmo, acordava cedo e saia da escola como ele, quando a escola fechava. Participei de olimpíadas e ganhei várias medalhas. Tudo soma para o currículo”, diz Renner Leite, que a exemplo do irmão mais velho, também foi aprovado para a Escola de Preparação para Cadetes do Exército.
“Muito gratificante, e com ajuda dos amigos, família e fé em Deus. Temos a vitória, mas não foi fácil chegar até aqui, e ainda temos muita jornada pela frente, com os dois. Toco a vida sem medo, com muita humildade, mostrando pra eles que assim a gente chega em qualquer lugar”, declara a mãe, Neuma Leite.
No próximo dia 19, Roger estará em São José dos Campos-SP, no ITA, onde vai ficar estudando pelos próximos cinco anos. Em breve Renner volta para Fortaleza para tentar chegar no mesmo lugar que o irmão. E o coração de dona Neuma viajando entre o Rio de Janeiro, Ceará e Imperatriz.
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