“Eu tinha 17 anos e ela 29. Tinha gente que não aceitava, mas eu casei assim mesmo!”. Hoje aos 74 anos, Antônio Fernandes Feitosa relata a história do namoro relâmpago – que em menos de um mês se transformou em casamento – e que causou polêmica na família dele.
Conhecido como Antônio “Baixim”, nasceu em Governador Eugênio Barros-MA (povoado Correntinho). Aos 17 anos, na festa de casamento do irmão mais velho, conheceu Antônia da Silva Feitosa, com quem casou e vive até hoje.
Antônia, ou melhor, Tonica, ao lembrar do episódio que uniu os dois, se diverte. “A primeira vez que vi ele foi na casa da minha irmã. Ele foi lá, perguntou alguma coisa, disse à minha irmã que ia pra festa de casamento e eu disse pra ela depois: olha, a festa hoje é com esse aí!”, relata em meio a muitas gargalhadas. Antônio “Baixim” completa (também aos risos): “Ela veio me perseguir”.
Tonica morava em Picos-PI e foi a Gonçalves Dias por ocasião do casamento do futuro cunhado (amigo da família da irmã). Os dois contam que estavam ansiosos pela festa. No breve encontro na casa em que estava hospedada a moça, os dois afirmam que os olhares foram inevitáveis. Tonica diz que foi à festa para ver outra vez o jovem que tanto lhe chamou a atenção. Antônio, embora tenha sentido-se atraído por Tonica, já tinha três namoradas e naquele momento preocupava-se mais em encontrar uma forma de distraí-las, já que todas iriam à comemoração. “Eu levei as três, mas nenhuma sabia da outra. Depois da recepção, me deu uma formigação nas pernas... era só vontade de dançar. Eu convidei um primo pra tirar as cadeiras do meio e aí foi só dizer pro sanfoneiro tocar. Eu dancei e dancei e dancei... e vi a Tonica sentada numa mesa com a irmã. Ela tava linda como uma princesa... eu me arrepiei todinho. Eu larguei a outra e corri lá na Tonica, perguntei se ela queria fazer uma parte comigo, ela falou que era só pra isso que ela foi na festa... e a gente dançou até as cinco horas da manhã. Quando terminamos, ela foi embora com a irmã e eu fiquei. As outras foram me bater, fiquei com as costas vermelhas de tanto apanhar...”, relembra “Baixim”, divertindo-se com as memórias.
Um novo reencontro aconteceu algumas horas mais tarde, na casa dos pais de Baixim, que ofereceram um almoço aos recém-casados. “Eu fiquei de olho nele e ele em mim”, diz Tonica.
“A gente ficou morando bem perto, uns três quilômetros de distância só. Eu pedi a um irmão pra escrever um bilhete meu pra ela e mandei. Ela mandava carta pra mim também. Num desses eu falei em casamento pra ela e ela aceitou. Eu fui na casa da irmã dela, falei pro cunhado dela que queria casar e que ela já tinha aceitado o pedido, então ele foi na casa na mãe da Tonica (umas dez léguas em lombo de animal) e avisou que a Tonica tava noiva do rapaz que dançou na festa com ela”, recorda Antônio “Baixim”. A história na época, segundo ele, não era bem vista por alguns familiares dele, que o achava muito novo para assumir um casamento: “Meu pai disse que eu não prestava pra casar, eu disse que prestava sim! Ele perguntou o que eu tinha pro casamento, eu tinha duas mudas de roupa e umas linhas de arroz. A preocupação dele era que eu não tinha casa, mas eu disse que meus irmãos iam me ajudar a construir… e eles ajudaram. Eu nunca morei em casa alugada, esse capricho eu tinha comigo!”.
O casal morou ainda por alguns anos na cidade de Gonçalves Dias. Em 1959, após 16 dias de viagem feita a cavalo, chegaram em Mucuíba (hoje Senador La Roque), mas as condições de vida do lugar não permitiram que o casal se fixasse. “Mudei logo de Mucuíba, quase morria de tanta malária, peguei quatro vezes em um ano. Lá era muito fraco, tinha pouca gente e pouco comércio”, diz Antônio. Mudaram-se para Chaparral, onde continuaram na agricultura. Pouco tempo depois, compraram uma casa no centro de Imperatriz, na avenida Dorgival Pinheiro de Sousa. Logo construíram outras duas: “Uma das minhas casas da rua Paraíba, eu troquei numa máquina de costura. Em 1973 eu mudei, comprei uma terra em Açailândia, trabalhei lá muito tempo, resolvi comprar uma casa no bairro Santa Rita e então desde 1981 a gente mora aqui”. O casal não teve filhos. Tonica conta ter adotado quatro crianças, mas uma só “se criou”. Os dois são religiosos, membros da Legião de Maria, afirmam gostar de servir na Igreja: “Eu amo a Legião de Maria, amo muito mais Maria”, diz Antônio Baixim. Tonica confecciona redes, durante muitos anos ajudava na renda familiar com a venda do produto feito à mão. Hoje, os dois são aposentados, deixaram a roça. E dizem que a alegria é a mesma da época em que se conheceram.
Publicado em Cidade na Edição Nº 14265
Comentários