(ELSON ARAÚJO)

Manhã de céu nublado, os ventos gerais fazendo-se prazerosamente presente beijando rostos, produzindo lembranças. Já pertinho do final da primeira quinzena do mês de Julho, ao cruzar aquela ponte, decidi parar. Desci do carro. Naquele instante senti o vento mais forte e tive a impressão de que a ponte balançava. 
Respirei profundamente, absorvi a beleza do momento e em breve oração dei graças. Olhei para baixo e senti uma pequena vertigem que logo foi embora. Procurei esvaziar a mente de todo e qualquer pensamento que viesse a atrapalhar aquele instante, mas não teve jeito. Uma lágrima teimosa escorreu no canto do olho direito. Estava ali naquele momento totalmente comigo e de repente passei a lembrar das dezenas de notícias de pessoas, de todas as idades, que ali já estiveram, não para saudar a natureza, mas para um salto rumo ao desconhecido deixando para trás um rastro de incerteza, tristeza e dor.
É interessante como o conceito de ponte vai além daquele que permite a mobilidade de veículos, pessoas e animais de um extremo a outro, sobre rios, lagoas, baias, pequenos e grandes cânions; perpassa, portanto, à interligação entre dois pontos. Das pequenas às gigantescas é impossível pensar a humanidade vivendo sem pontes; certamente a vida seria mais difícil com grupos humanos ficando isolados.
Metaforicamente o homem precisa das pontes para as inúmeras travessias de que ao longo da vida necessita fazer. A ponte entre o mundo material e o mundo espiritual, a Terra e o Céu, entre o Céu e o Inferno, entre o ser e o ter, entre o eu interior e o eu exterior.
Há sempre uma ponte no meio do caminho para ser cruzada, vencida, superada. As pontes só não são importantes quando são utilizadas para travessias e despedidas infelizes.