João Alves, o Mestre João

Geovana Carvalho

João Alves Peixoto, 77 anos, orgulha-se do ofício e das amizades conquistadas ao longo de décadas de trabalho. O cearense de Juazeiro aprendeu na adolescência a profissão. “Mestre” João – como é conhecido na cidade, e como faz questão de ser chamado – diz que a casa onde mora com a mulher e com um netinha é um verdadeiro comitê político. Mestre João garante que de sua varanda muitas decisões importantes foram tomadas.
Enquanto conserta calçados, o sapateiro aproveita para discutir política e a economia de Imperatriz. Palavras bem pronunciadas e clareza de pensamento são marcas de João Alves. Segundo ele, o gosto pelo assunto se deve à paixão pela Filosofia. Mestre João conta que na juventude conheceu um filósofo que admirava muito, pela facilidade em expressar ideias e pelo conhecimento que tinha. “Fiz o ginasial, eu queria ser filósofo, achava bonito a forma que o professor Rabelo (filósofo) falava. Mas por causa da situação econômica eu não consegui. Na época era muito difícil estudar, não é como hoje que tem facilidade. Eu tive que ir em busca da sobrevivência. Mas agradeço a Deus por essa facilidade em expressar-me”, diz.
A profissão de sapateiro ele diz estar em crise e culpa o consumismo pelo estágio de desaparecimento do ofício que desempenha com tanto zelo. “Está em fase de extinção. Há 15 anos tenho percebido isso. Tudo porque o calçado vendido nas lojas são mais baratos e mais bonitos. As pessoas querem saber de beleza e não de qualidade. Houve um aumento de lojas de calçados. Mas esses calçados são de péssima qualidade e o fabricante sabe disso, eles são feitos para não durarem. Quando cheguei em Imperatriz eu sobrevivia de fabricar calçados, hoje eu apenas conserto. Existem lojas que vendem o produto por dez reais e não dá garantia nenhuma. Por dia eu conserto uns trinta sapatos. O meu cliente não volta, porque eu imponho qualidade no meu serviço, só uso material de primeira. Eu respeito o cliente”, conclui o Mestre João, resumindo a filosofia de vida que permeou o trabalho ao longo de mais de 60 anos.