Tentei falar, hoje, com alguém, sobre a trajetória humana, mas não consegui. De repente, veio a mim, uma reflexão, um tanto quanto, existencialista. Comecei, portanto, a dialogar comigo mesmo, indagando-me: para que viemos cá, ou seja, pro planeta Terra? Uma vez, que nossas vidas são entremeadas, quase sempre, de coquetéis de múltiplos sabores, pior, nem sempre, agradáveis. Desde a vida pré-nupcial, somos atormentados pelo desejo de nossos pais de fazermos parte de suas histórias genealógicas. Além, de nos transformarem, quase sempre, nos esconderijos de suas fantasias nunca, de fato, por eles realizadas, ao longo de seu passeio terreno.
Infelizmente, nem sempre, há uma cumplicidade plena, quanto à gravidez, entre os genitores. A ausência dessa cumplicidade afetiva, ao projeto gestacional de um casal, é a grande causa do nascimento de filhos parcialmente ou totalmente indesejados, como, nos casos de estupros ou gravidez na adolescência. Agora, imaginemos: se sob a égide de um desejo mútuo, as tortuosidades, enfrentadas, por nós, ao longo do caminho terreno, são íngremes, quanto mais, quando a gravidez aconteceu à revelia dos laços afetivos ideais!
Durante milênios, a ciência não reconhecia com base em evidências, a importância do equilíbrio emocional ou afetivo de uma mulher grávida, sobre o desenvolvimento fetal. Isso, apesar, do que nos é descrito no Evangelho de Lucas Capítulo 1, por ocasião do encontro de Maria com a prima Isabel. Sigmund Freud, na segunda metade do século XIX, já se antecipara ao dizer: "A partir do desejo de uma mãe em conceber um filho, fica estabelecido o seu diálogo com o filho"! Finalmente, na década de 90, precisamente, em 94, a Neurociência vem confirmar o que se presumia, biblicamente e psicanaliticamente, acerca do papel das emoções maternas, quanto ao desenvolvimento do concepto.  
Muitas vezes, deixamos de nos mexer no ventre de nossas mães, em razão, de momentos frustrantes, por ela vividos, ou, quando, diante da ameaça de uma cureta abortiva. Por outro lado, aqui, neste momento, vem a mim, a lembrança da paciente de minha querida colega SONIA FATECHI (in memoriam), chamada Elza, que me dizia: "Dr. Itamar, quando estava chegando a hora, do meu esposo chegar de Açailândia, essa menina pulava que, faltava pouco pra sair pela boca. Teria esse comportamento dela, uma correlação com a minha alegria pra reencontrá-lo?" No que lhe respondia, ainda, que empiricamente: Certamente, sim, Elza!
 Não obstante, quando tudo nos parece fantástico, o líquido amniótico escasseia-se, gradativamente, e somos convidados a deixar o útero de nossas genitoras, definitivamente. É o começo de uma travessia extremamente traumática, a qual, chamamos trabalho de parto. O qual, segundo OTTO RANK - Um psicanalista alemão, é a nossa principal fonte de traumatismos psicológicos. Tanto, assim, o entendia que se inspirou para escrever uma de suas obras - TRAUMATISMO DE NASCIMENTO.  Uma situação para qual, nem a genitora, nem o bebê estão prontos para lidar, sem sentimentos de perda, ou seja, a saída do útero materno. E quanto menos natural ocorrer, mais traumático será pro nascituro.
 Desde o principiar do desejo de nossos genitores, sobre a nossa germinação, as fantasias alheias vão interferir nos nossos destinos, por um tempo quase infinito. Desde então, a somatória de lutos que iremos enfrentar é imensurável! Nossos momentos de glamour ou glória são exageradamente, fugazes. Depois da primeira infância, segunda infância, vem à adolescência, cuja frivolidade se estende, até, a juventude, cujos sabores serão lembrados em toda nossa existência, muitas vezes, recheados de infindáveis saudades. O tempo todo, temos de nos adequar a contra gosto, aos inesperados desígnios da vida, impostos pelos valores e conceitos daqueles que nos idealizaram como filhos, juntamente, com uma sociedade heterogênea em se tratando de sentimentos de respeito à individualidade humana.
Após, as inúmeras tormentas ou tsunamis que enfrentamos pelas tortuosas estradas da vida, a finitude, inexorável a todos os seres vivos, bate inevitavelmente, em nossas portas, sem a mínima piedade possível. Indiscutivelmente, para nós humanos ou pensantes criaturas de Deus, a finitude é um verdadeiro terror a qualquer um de nós. Malgrado ser inevitável!
A dor sentida por todos nós é tal e qual, aquela sentida, quando somos expulsos do útero de nossas genitoras. A única diferença está, no fato, de que em nossa passagem pelo canal do parto, somos agraciados com a liberação endógena de endorfinas, ou seja, substancias liberadas pelo cérebro fetal, para anestesiar as dores da terrível travessia. Os traumas porventura ocorridos ficam no nosso Inconsciente. Diferentemente, de quando temos consciência de nossa temporalidade existencial.
Para alguns estudiosos da Psicanálise Infantil, como: Melanie Klein e D.D. Winicott, quando, ao abordarem a satisfação do bebe ao mamar e, a frustração d'ele, quando o seio materno não lhe é suficientemente bom, ou, é um peito ruim (Melanie Klein), o bebe vivencia a pulsão de vida e morte, ou seja, prazer e sensação de abandono!  Terrível!
A fase da dentição, por muito tempo, foi considerada inócua aos bebes. Estudos ainda feitos por Rachel Soifer, na década de 80, sobre a psicopatia alimentar, concluiria que o surgimento de um dente na arcada dentaria de uma criança significa para ela, algo a destruí-la. Consequentemente, causando-lhe muito sofrimento físico e queda na imunidade orgânica. Em razão, desse fato, adoecem mais que o habitual, nessa fase da vida.
 Após, minha breve conversa, comigo mesmo, sobre tortuosas e inexplicáveis curvas nas estradas desta vida, resta-me, simplesmente, acalentar-me nos braços ou asas da Esperança, que nos foi deixada por Jesus Cristo, quando sabiamente diz a Pilatos: "O meu Reino não é deste mundo"! É preciso que tenhamos como antídoto para os nossos infortúnios, sejam, quais forem, o sonho incessante de uma Vida Eterna, portanto, ao lado do Nosso Maravilhoso Deus! Certamente, teremos o malabarismo à altura de nos permitir uma vida mais saudável e alegre, apesar de todo esse rosário de questionamentos, acerca do sentido de nossa experiência de vida terrena.
Tenho certeza, absoluta, não cometer nenhum discurso pessimista, neste momento, ao me reportar sobre os desencantos reais por nós vividos, enquanto viventes terrenos. Tudo, aqui, não passa de uma breve e inexplicável viagem, se não nos inundarmos nas águas profundas do Oceano de Ilusão Celestial. É melhor, que nos afoguemos verdadeiramente, nesse Mar de tão louca ilusão, segundo os mais céticos humanos do nosso quotidiano, que insistirmos a viajar por estradas construídas sob a égide de nossas malévolas e tênues vaidades ideológicas. As quais são tão fugazes, quanto à urticária produzida por uma picada de abelha ou maribondo.

Imperatriz, 12 de fevereiro de 2018.
Itamar Dias Fernandes