Num belo dia, isso no início da década passada, a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, até então uma desconhecida professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, deu-se conta de que os supostos 100 bilhões de neurônios que existiriam no cérebro humano, “número suspeitamente redondo”, não passavam, em verdade, de “uma estimativa de ordem de grandeza, e não resultado de medidas reais”, conforme relata em artigo de sua autoria, publicado na revista Piauí, edição nº 107, agosto de 2015, págs. 44/47.
Praticamente só com a cara e a coragem, resolveu ir à luta e, para resumir a estupenda jornada que vivenciou, descobriu, depois de longos e exaustivos meses sem fazer outra coisa, que no nosso córtex cerebral há 16 (dezesseis e não cem) bilhões de neurônios. Resultado desse extraordinário feito científico, o seu nome passou a ser uma das grandes referências globais no complexo campo da neurociência.
Mesmo reconhecendo que o poder público, aqui no Brasil, trata as pesquisas científicas com absurdo descaso, ela afirma: “(...) épossível, sim, fazer ciência de ponta em terras tupiniquins”. Só faltou acrescentar, o que fazemos por ela: desde que se tenha aguerrida força de vontade e inquebrantável amor pela ciência.
Encontro-me entre aqueles que duvidam que o Brasil possa algum dia ser alçado ao patamar de país realmente desenvolvido se os nossos governantes continuarem achando que fazer pesquisa, talvez porque não dê voto, seja coisa supérflua, desnecessária, dispensável. Estivessem nossos centros de pesquisas aparelhados com laboratórios de indiscutível excelência e neles investidos recursos em volume suficiente, estaríamos, com certeza, em posição de vanguarda no mundo da ciência, em pé de igualdade com qualquer país desenvolvido. Para citar um único exemplo, o emblemático problema de falta de água no Nordeste, em especial na região do semiárido, há muito já teria sido equacionado e superado.
Sabe-se que em Imperatriz há professores da UEMA desenvolvendo, quase anonimamente, pesquisas importantes, as quais, por falta de recursos e condições laboratoriais adequadas, andam, como não poderia deixar de ser, a penosos passos de cágado. Que esses pesquisadores, espelhando-se no exemplo da doutora Suzana Herculano-Houzel, continuem firmes nesse propósito e, por conta própria, busquem o apoio de empresas locais ou que tenham filiais em nossa cidade. Sugiro que tentem vender seu peixe, por exemplo, para a Suzano, Vale, Mateus, Paraíba, Liliani, Feirão dos Móveis, Maquisul, Matsuda, Terraforte, Nádia Rural etc etc. Quem sabe dá certo. Quem sabe a coisa muda. Quem sabe o lento cágado dê lugar a um veloz leopardo.
Advogado*
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