Ironizando o resultado, até aqui, da divulgação de alguns trechos de mensagens por ele trocadas, ao tempo em que atuava como juiz federal, com procuradores da força-tarefa da Lava Jato – que considera simplesmente irrelevante, o ministro Sergio Moro tuitou, na manhã do último domingo (23/06/2019), este verso do poeta latino Horácio (65-8 a.C.): “Parturiunt montes, nasceturridiculus mus”, algo como “As montanhas estão com as dores do parto, mas nascerá apenas um ridículo camundongo”.
O destemor do ministro é inquestionável. Muitos, no lugar dele, diante de tão inclementes suspeitas de tendenciosidade e falta de isenção quando estava no Judiciário, já teriam jogado a toalha. Portanto, acima de qualquer opinião que se tenha sobre a conduta dele, é preciso reconhecer que a sua coragem, a sua disposição para a luta, é uma coisa no mínimo comovente.
O problema é que, quanto mais tenta se explicar, mais se fica com a sensação de que o ministro Sergio Moro efetivamente se envolveu, muito além do permitido, com os procuradores da Lava Jato. É bem possível que a sua biografia, a essa altura, já esteja irremediavelmente comprometida. Mas o mais grave disso tudo é que, caso não se prove a inautenticidade de tais mensagens, não será pequena a possibilidade de todo o trabalho da Lava Jato terminar ficando sob suspeita, o que, isso sim, será uma tragédia monumental.
O ministro Moro, não se pode negar, também é paciente e é certo que vai precisar de muita paciência para suportar as incontáveis adversidades que ainda terá pela frente, permaneça ou não no cargo. Que medite sobre esse outro verso de Horácio, extraído de sua obra-prima Odes (I, 24): “Leviusfitpatientia / Quidquidcorrigere est nefas” (“A paciência torna mais leve / O que não é permitido remediar”).
Se não gostar, se tem a esperança de que o tempo operará o milagre de consertar o que aparentemente não tem conserto, sugere-se que reflita sobre esse outro verso de Horácio, contido, também, em Odes (I, 4, 15): “Vitae summabrevisspem nos vetatincoharelongam” (“A breve duração da vida não nos permite alimentar longas esperanças”).
Dedico este, como sempre, humilde e despretensioso artigo a José Ribamar Cavalcante Silva, o popular Ribone, ora às voltas com sérios problemas de saúde, mas que, nem assim, perdeu o fair play. Força, amigo!
*Roberto Wagner é advogado
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