Durante o debate foi possível participar por meio do chat levantando questionamentos acerca das falas dos convidados - Reprodução/Ascom UEMASUL

A série de lives "Diálogos em tempos de pandemia" realizou, no último domingo (7), uma conversa especial com a temática: "Precisamos falar sobre racismo". O debate estimulou a reflexão a partir de uma perspectiva brasileira. A live contou com a mediação da professora Nice Rejane, historiadora e coordenadora do Programa de Formação de Professores Caminhos do Sertão, da UEMASUL, e teve como convidados o economista e professor da UEMASUL, Júlio Rodrigues; o professor Jeffrey Marley, egresso da UEMASUL e discente do Mestrado em Letras; e Grazyela Machado, licenciada em história pela UEMA/UEMASUL, bacharela em direito pela UFMA e assessora de promotoria.

Ao longo de seus quatro anos de existência, a UEMASUL promoveu iniciativas institucionais que debatem questões relacionadas à identidade afro-brasileira, à diversidade e aos direitos humanos. Durante este período sensível de pandemia do novo coronavírus, as lives realizadas pela UEMASUL vêm debatendo questões relacionadas à atual conjuntura do país, mas também questões urgentes presentes na sociedade, como é o caso das recentes manifestações antirracistas ocorridas no Brasil e no mundo.
A diretora em exercício do Centro de Ciências Agrárias (CCA), professora Nisângela Severino Lopes Costa, acompanhou o debate como ouvinte e conta as experiências vividas carregadas de manifestações racistas ao longo da vida.
"Sou negra e nasci em uma periferia. Então, consigo expressar quão inestimável é falar sobre racismo. Nasci no final dos anos 80 e na infância e adolescência, onde o indivíduo é construído pela sociedade (somos produto do meio), o que eu ouvia era que ser negro era algo ruim, inferior. Não se falava sobre diferenças raciais. Cresci achando que o belo e perfeito era o branco, alto, dos olhos azuis. Na adolescência achava que não casaria porque tinha o cabelo crespo e o nariz característico da minha raça. Achava que era uma deficiência ter essas características, isso até uns 12 anos. Quando adulta, já tinha outro pensamento, mas sistematicamente me casei com um homem branco para que meus filhos não passassem pelo que passei. Mas tenho uma certa empatia por essas pessoas que me discriminavam, elas foram corrompidas pelo meio, nas escolas não se falava sobre isso, como elas iam saber? Até eu achava que eu não era normal", disse.
A professora destaca a importância do espaço aberto para o diálogo. "É preciso falar sobre esse assunto rotineiramente. É preciso que em todas as etapas de formação do indivíduo ele tenha contato com a temática, para que esse ciclo de preconceito um dia acabe. E ainda é preciso que os negros tenham empatia por outros negros que ainda não se aceitam. Racismo dói muito", finaliza.
Durante o debate foi discutido sobre a importância de se entender a estrutura racista a qual toda a sociedade brasileira está inserida, junto aos dados e aos personagens brasileiros assassinados nos últimos anos em decorrência de operações policiais.
A série de lives "Diálogos em tempos de pandemia" é realizada toda terça-feira e apresenta temática variada, abordando de forma acadêmica assuntos de interesse público. Hoje (09), no canal da UEMASUL no Youtube, o debate será acerca do "Fascismo e Espetacularização do ódio no Brasil" com a participação dos professores Valter Pomar (USP) e Luiz Maia da Silva (UEMASUL).
Contextualizando
No dia 25 de maio de 2020 um homem negro morreu ao ser abordado por um policial no município de Minneapolis, nos Estados Unidos. Durante a abordagem, George Floyd, de 40 anos, foi imobilizado no chão e teve seu pescoço pressionado pelo joelho do então policial Derek Chauvin. Logo após a divulgação de sua morte, uma onda de protestos tomou ruas e pessoas, da América à Europa.
No Brasil, após a repercussão desse caso, surgiu o debate relembrando às vítimas negras, homens, mulheres e crianças, que foram e são assassinadas todos os dias em situações semelhantes a de George Floyd. Embora a temática tenha tomado força nesse curto período, esse assunto é pouco debatido em espaços institucionais da nossa sociedade. (Ascom UEMASUL.)