Illya Nathasje

"É um doutor, mas parece mais um jumento". A frase em desuso era muito usada em tempos passados por pacientes depois de um atendimento, insatisfeitos que ficavam com a 'secura' do profissional que receitava.
Nesses tempos em que Marielle é dia e é noite no noticiário, a carga pesa para o deputado Alberto Fraga (PP-DF) e para a desembargadora Marília Castro Neves (TJ-RJ). Precipitadamente, segundo eles, divulgaram posts com infundadas acusações contra a vereadora carioca. Pedem desculpas. Não é o caso. Nem para o precipitadamente, que serve apenas para mostrar a identificação que a índole dos dois possui para com o crime cometido contra a vítima, nem para as desculpas. É caso para uma mea-culpa pela parte que lhes cabe e de acusação de culpa por parte de quem possa tomar providências. A divulgação efetuada, além de semear o preconceito, estimula o ódio e causa repugnância àqueles que se propõem, ser humano.
Do deputado, o mandato explicita por si. Da desembargadora nos resta a vergonha, pelo presente citado acima e pelo passado que aflora. Eis que agora descobre-se dela, seu preconceito não é apenas contra todas as figuras que Marielle incorpora - negra, favelada, lésbica - atinge a todos.   Depois de ouvir na Voz do Brasil que "o Brasil é o primeiro país a ter uma professora com síndrome de Down", escreveu depois de - segundo ela - apurar os ouvidos e de classificar a informação como 'pérola': "(...) Poxa, pensei, legal são os programas de inclusão social… Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem???? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?". Ignorante, ainda, desconhecia ela que a professora potiguar havia sido, em 2015, homenageada com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação 2015. Além de integrar um grupo de teatro e autora de livro, Débora conta histórias.
- Escombro moral é pouco, não?

A finalização desse, escrevo com as palavras da professora Débora Seabra:

Recado para a juíza Marília

Não quero bater boca com você!
Só quero dizer que
Tenho síndrome de Down e sou professora auxiliar de crianças em uma escola de Natal (RN).
Trabalho à tarde todos os dias com minha equipe que tem uma professora titular e outra auxiliar.
Eu ensino muitas coisas para as crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito pelas outras, aceitem as diferenças de cada uma, ajudem a quem precisa mais.
Eu estudo o planejamento, eu participo das reuniões, eu dou opiniões, eu conto histórias para as crianças, eu ajudo nas atividades, eu vou para o parque com elas. Acompanho as crianças nas aulas de inglês, música e educação física e mais um monte de coisas.
O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo pra acabar com o preconceito porque é crime. Quem discrimina é criminoso.

Débora Araújo Seabra de Moura

Apesar dos governantes que não designam recursos ou dos que não aplicam corretamente, reações como essa nos diz que resta a esperança que sob o esgoto não nos quedaremos.