Quadra de esportes na Praça União é usada como ponto de venda de drogas

Hemerson Pinto

De longe parecia o cabo branco de um pirulito e poderia ter sido jogado ali por uma criança após degustar o doce. Mais alguns passos e percebemos que era o sinal de uma vida provavelmente amarga. O cachimbo usado por usuários de crack foi encontrado em meio à grama alta da Praça da Bíblia, região central de Imperatriz.
Não foi uma surpresa. Improvisos como aquele avistado por nossa reportagem são encontrados facilmente nas praças da cidade. Ocupadas por usuários de drogas e moradores de rua, e moradores de rua que usam entorpecentes, os lugares construídos para o lazer, o trabalho, a prática esportiva e para os românticos casais de namorados se transformaram em espaços tomados pelo medo.
"Eu, hoje, tenho medo de andar em praças onde andava ontem, onde caminhei com minha namorada que agora é esposa, onde levamos nossos filhos para brincar no Trenzinho de Alegria. A Praça Tiradentes era bem maior, não tinha o Camelódromo nem o Terminal de Integração. Tinhas festas e muita gente reunida, uns trabalhando e outros brincando, mas não se ouvia falar em ninguém exigindo gorjetas para olhar seu carro ou sua bicicleta e não se achava tocos de cigarro de droga. Bem diferente de hoje em dia", lembra o aposentado Francisco Ribeiro. 
As exigências por dinheiro, atitudes que partem de pessoas que vivem nas praças, principalmente na Praça de Fátima, têm causado até mesmo prejuízos a comerciantes. "Já perdi muitos clientes nos últimos anos. Tanto eu como os outros cinco donos de lanchonetes, os vendedores ambulantes e os vendedores de comida e outros produtos do outro lado da praça. O pessoal que vive na praça vem até os clientes e exige dinheiro. Se a pessoa não entregar, ou oferecer quantia pequena, eles saem xingando. Teve gente que me disse que não voltaria no meu lanche e não voltou", desabafa Israel Vieira, o 'Pescoço'.
Um dos donos de lanchonetes mais conhecidos da cidade trabalha há muitos anos na Praça de Fátima, localizada no centro da cidade. Além do incômodo provocado pelos moradores de rua que habitam o local onde dormem, "quebram bancos, brigam entre eles, provocam quem está de passagem ou passeando pela praça", 'Pescoço' afirma que "existem pessoas que não vivem nas ruas, mas se infiltram para praticarem furtos e roubos no Calçadão".
O comerciante informou que há pouco mais de dois meses uma mulher que vive pedindo dinheiro no semáforo da Rua Simplício Moreira com a Avenida Dorgival Pinheiro tomou de uma mulher que saía de uma casa lotérica a quantia aproximada de R$ 2 mil. "Quando a mulher gritou, o povo começou a correr atrás e ela (quem roubou) saiu espalhando dinheiro na rua", disse.

Crimes 

Além dos crimes de furtos e assaltos, as praças da área central de Imperatriz colecionam cenas de agressões físicas, espancamentos, tentativa de homicídios e assassinatos concretizados.
"Na Praça de Fátima, ao longo de cinco anos, posso afirmar que aconteceram, na praça e nas calçadas de lojas aos arredores, seis assassinatos. Uns três aconteceram durante o dia, em horários movimentados e com muita gente presenciando. Depois de ver muita coisa errada e meus clientes se afastando, procurei até a Delegacia Regional para saber o que tinha de fazer. A orientação foi rápida e bem clara: eu deveria procurar a Polícia Militar", explica 'Pescoço'.
O Camelódromo ao lado da Integração e a Praça Tiradentes são locais que reúnem pessoas em situação de rua, mas não chega à quantidade de habitantes da Praça de Fátima, segundo comerciantes, cerca de 20. Nesses dois espaços também já aconteceram crimes contra a vida, na maioria motivados por acerto de contas entre usuários de entorpecentes.

Segurança 

O comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, Tenente Coronel Markus Lima, informou ao jornal O PROGRESSO que não existe a possibilidade de manter policiamento fixo nas praças citadas na reportagem. Primeiro por não haver efetivo suficiente, depois por ser uma área de responsabilidade do município. Markus Lima acrescentou que uma alternativa seria a implantação, pelo município, da Guarda Municipal que, como em grandes centros onde existe, tem entre as funções auxiliar no trabalho preventivo.
A Praça de Fátima, segundo o comandante da PM, não é de onde parte a maioria dos pedidos de socorro para o Copom do quartel. A maioria das vezes que a polícia é chamada para ocorrências em praças, elas estão acontecendo na Praça da Cultura (de onde existem denúncias de venda de droga) e do Camelódromo. Mesmo assim, por estar no centro comercial, é a Praça de Fátima que recebe reforço com o policiamento.

Outras

Na Praça Brasil, as reclamações sobre crimes praticados por moradores de rua também são comuns. Outro local conhecido pela Polícia Militar, devido às operações realizadas com mais força no ano passado, é a Praça União, que não está distante do Centro.
A venda e o consumo de drogas já renderam várias prisões e apreensões. "Nas praças de Imperatriz, costumamos prender pessoas e apreender armas e drogas. Logo são colocados em liberdade", diz o tenente coronel Markus.