Por Raimundo Primeiro
Os tempos já não são mais os mesmos, os anos avançaram. Entretanto, lembro-me nitidamente, como se fosse hoje, da casa de minha avó materna, a mineira Ana.
Minha infância, tempo do pé de tamarindo na ampla e arborizada residência, localizada em pleno centro de Imperatriz, na avenida Getúlio Vargas, continua tácita em minha mente.
Na ventilada moradia, também havia coqueiros. Deles, vovó Ana retirava os cocos para fazer as deliciosas e inesquecíveis cocadas. A bacia de alumínio, límpida, ficava repleta. Uma imagem que não consigo apagar da minha mente, apesar do romper dos verões e dos invernos.
Trago à baila tais recordações, assim efetivamente saudosista, para frisar, por ocasião do aniversário do compositor e cantor Roberto Carlos, comemorado na quinta-feira, 19 de abril de 2018, de um fã que sua majestade possuía aqui em Imperatriz.
Refiro-me ao meu tio Salvador, mais conhecido por Tio Nenga, admirador de carteirinha [e tudo mais] do Rei, o capixaba da pequena cidade de Cachoeiro de Itapemirim, o hoje renomado e premiado Roberto Carlos.
Baiano de nascimento, mas imperatrizense de coração, Tio Nenga, de estatura mediana, soube gostar e valorizar das coisas daqui. Igualmente, da nossa culinária, dos nossos costumes, enfim, do nosso jeito de ser e viver.
E, sobretudo, degustar uma panelada nas bancas que vendiam comidas, bem ali na região do bairro Entroncamento. Não esquecia a cervejinha, ultimamente, tomada no boteco situado na rua Leôncio Pires Dourado, já nas proximidades do Posto de Saúde Milton Lopes, no Bacuri.
Não recordo a data. Era criança ainda. Lá por volta dos meus 10 e/ou 12 anos. Não sei! O que interessa, obviamente, ressaltar o quão Tio Nenga curtia as músicas de Roberto Carlos. Houve uma época da eletrola com capacidade para armazenar até cinco discos, os chamados long-plays e compactos, os vinis, com, no máximo, quatro canções.
Naquela época, ah (!) o tempo, que faz a gente, às vezes, esquecer os detalhes, os necessários pormenores dos fatos, ele permanecia, durante os fins de semanas – sábados ou domingos – curtindo os sucessos cantados por Roberto, mas escrito por ele e seu principal parceiro, o roqueiro Erasmo Carlos.
Tempos depois, Tio Nenga se casou. Vieram os filhos, os primos Sirlene e Marcelo. Idem, os aniversários deles efusivamente festejados, na companhia de familiares e amigos, além do compadre dele, o qual residia na rua Piauí, nas imediações da avenida Bernardo Sayão, no bairro denominado de Nova Imperatriz.
As comemorações, as reuniões. Todos os momentos festivos organizados pelo Tio Nenga eram animados por músicas de Roberto Carlos e inesquecíveis sucessos do movimento que ficou conhecido por Jovem Guarda, integrado, entre outros artistas, pelo Rei, Paulo Sérgio, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Wanderléa, Erasmo Carlos, Martinha, Ronnie Von, Eduardo Araújo, Rosemary e José Roberto.
Incontestavelmente, Tio Nenga soube viver. Tal qual os astros, soube ser luz nos momentos que se fizeram necessários, durante sua passagem pelo plano terreno. Sua atuação entre nós parece ter sido desígnio, algo para deixar uma marca registrada. Talvez, sim, tenha sido um propósito. Simbiose com o cosmos.
Tio Nenga, hoje, se aqui estivesse, certamente, estaria eufórico, feliz, principalmente por saber que, em 5 de junho, Roberto Carlos, seu cantor predileto, seu ídolo, estará cantando em Imperatriz.
Hoje, Roberto Carlos faz aniversário. O Rei da música brasileira festeja 77 anos. Uma vida, uma história. Uma odisséia.
Hoje em dia, Tio Nenga, o mundo necessita de românticos, de pessoas que valorizem o que é bom. Que surjam outros Homeros, autores de clássicos que avancem e cravem novos tempos. Hoje, também gosto de músicas “antigas”, de ouvir canções da época da Jovem Guarda. Suas ações continuam indeléveis.
Parabéns, Roberto Carlos, Rei da MPB!
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