O mundo ainda está chocado com a pior série de ataques terroristas à França, na noite de 13 de novembro de 2015, reivindicados por jihadistas do Estado Islâmico. Nada menos do que 129 mortos e 352 feridos dos quais 90 em estado grave.
Os bárbaros já tinham ocupado as manchetes mundiais e as redes sociais divulgando, para intimidar, como degolam seus prisioneiros colocando as cabeças sobre os corpos ensanguentados.
Eles afirmam que o atentado em Paris, “a capital da prostituição e do vício”, é apenas “o início de uma tempestade para o Ocidente” e que “irão ao centro do Poder dos Estados Unidos”. Quanta audácia!
Atualmente, o terrorismo representa o maior desafio para o binômio inteligência/segurança e tem demonstrado a incapacidade dos Estados defenderem os interesses da sociedade.
O terrorismo indiscriminado é muito pior do que uma guerra porque não existem convenções e nem códigos de ética. O alvo é a população indefesa, os prisioneiros são humilhados e torturados física e moralmente. Seu objetivo precípuo é implantar o pânico e o trauma social. Nas guerras, por mais demoradas que sejam, sempre há a perspectiva de paz. Na escalada do combate ao terrorismo isto não se vislumbra, principalmente quando existe o rótulo de um incompreensível radicalismo religioso.
A simultaneidade de atos terroristas em Paris demonstrou um eficaz planejamento do Estado Islâmico, cumprido de forma obsessiva por fanáticos seguidores.
A preocupação com a segurança aumentou de forma expressiva em todos os países do mundo, particularmente nas grandes potências. Os Estados Unidos da América continuarão a ser o alvo prioritário dos ataques suicidas.
E o Brasil com suas vulnerabilidades, extenso litoral, grande fronteira terrestre e às vésperas das Olimpíadas de 2016, poderá entrar no escantilhão dos bárbaros.
Gabriel Weimann, autor do livro “Terrorismo no espaço Cibernético: a nova geração”, cita que o Brasil é um dos países menos protegidos contra o terrorismo no planeta.
Desde a extinção do Serviço Nacional de Informações, em 1990, o Brasil carece de um eficiente Sistema de Inteligência haja vista, por exemplo, os sucessivos escândalos que abalam a vida nacional. E agora, para piorar, a presidente acaba de extinguir a tradicional e histórica Casa Militar subordinando o Gabinete de Segurança Institucional à Casa Civil. Pela primeira vez em nossa História, o Comandante em Chefe das Forças Armadas não terá, a seu lado, um General para assessorá-lo e garantir a sua segurança. Que falta de visão!
Carlos Marighella é autor de “Minimanual da Guerrilha Urbana” onde faz a pregação aberta do terrorismo. Sua obra é conhecida internacionalmente e Claire Sterling no livro “The Terror Network- The Secret War of Internacional Terrorism” a descreve em detalhes.
Serviços Secretos de vários países consideram o Brasil um campo fértil para as atividades terroristas, prioritariamente na fronteira com o Paraguai e Argentina, onde se encontra a Usina Binacional de Itaipu.
Dois atentados terroristas abalaram Buenos Aires em 17 de março de 1992 e em 18 de julho de 1994, na Embaixada de Israel e na Associação Mutual Argentino-Israelense, respectivamente, com dezenas de mortos e centenas de feridos.
Convém relembrar que, em 2009, a Polícia Federal prendeu, em São Paulo, um terrorista da alta hierarquia da Al Qaeda.
O Brasil repudia o terrorismo mas não tem uma lei antiterrorismo. Possui a segunda maior infraestrutura estratégica das Américas mas também não tem programa para a sua proteção.
Entretanto, é preciso considerar que o Exército Brasileiro irmanado com as demais Forças Singulares e com os devotados integrantes das Forças de Segurança Pública foram reconhecidos internacionalmente na prevenção e combate bem sucedidos contra a subversão e o terrorismo, no período de 1968 a 1974. No solo pátrio, não houve desdobramento de tropas especiais dos EUA, como ocorreu em praticamente todos os países das Américas Central e do Sul.
Na conferência do meio ambiente realizada no Rio de Janeiro, em 1992, com o maior número de Chefes de Estado e de Governo presentes em eventos similares, o planejamento da segurança foi exemplar. O mesmo ocorreu, recentemente, por ocasião da Copa do Mundo de futebol e durante a Jornada Mundial da Juventude, presidida pelo Papa Francisco.
Desde já, todos os envolvidos direta e indiretamente com a segurança pública deverão adotar um procedimento operacional padrão contra o terror. A Contrainteligência e a Inteligência são decisivas no combate ao terrorismo. Os princípios estratégicos devem ser rigorosamente observados e a unidade de comando é de fundamental importância. Além do aprestamento e do imprescindível poder dissuasório, todos devem saber o que fazer. Não basta vigiar!
O apoio da população é vital para o sucesso das operações.
Em clima de confiança e otimismo, sem temor, os terroristas não terão guarida em nosso território e as Olimpíadas de 2016 serão realizadas com segurança máxima, bastando tão somente haver vontade política do Governo, inclusive no fornecimento dos meios necessários. Não podemos e não vamos nos intimidar!

DIÓGENES Dantas Filho é Coronel R1 do Exército Brasileiro, ex-Comandante do 50º Batalhão de Infantaria de Selva (50º BIS), Doutor em Planejamento e Estudos Militares e Consultor de Segurança