Raimundo Primeiro
O professor João Renôr já colocou no mercado editorial local a terceira edição - crítica e ampliada - do livro "O Sertão - Subsídios para História e a Geografia do Brasil", de autoria da escritora maranhense Carlota Carvalho, nascida na cidade de Riachão, na Região Sul do Maranhão, a cerca de 300 quilômetros de Imperatriz.
Esta preciosa obra de história, geografia e antropologia do povo sertanejo traz informações valiosas sobre o Sul do Maranhão, o Norte do Tocantins, o Sul do Pará, o Amapá e a Região do Rio Parnaíba, no vizinho Estado do Tocantins. O pesquisador revela que a obra foi publicada pela primeira vez no Rio de Janeiro sob o patrocínio da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1924, tendo "juízo crítico" do eminente escritor Luiz Murat (1861-1929).
Sobre Carlota Carvalho, escreveu Luiz Murat: "Para esta senhora ilustre chamo a atenção de quantos desejam estabelecer relações com os ornamentos da nossa cultura intelectual. Seu espírito lúcido, admiravelmente aparelhado por longos estudos positivos, não exagera o que descreve, analisa, ou pressupõe, em preciosas sínteses históricas, nas quais as conclusões religiosas ou filosóficas são rigorosas, ao ponto de vista do filosofismo recorrente".
O pesquisador João Renôr diz tratar-se de uma obra polêmica e que foi, por muitos anos, considerado o livro "maldito do Maranhão e do Brasil", porque a autora, Carlota Carvalho, teve a coragem de denunciar em 1924 a corrupção dos governantes do Maranhão e condenar Duque de Caxias por crimes contra a humanidade na "Guerra da Balaiada" (Detalhes, no Box).
Para Carlota Carvalho, o Patrono do Exército Brasileiro (EB) só praticou "crimes hediondos" contra o povo sertanejo do Maranhão. Por esta razão, o Exército Brasileiro também condenou o livro. Os maranhenses desconhecem os fatos narrados pela autora.
Agora, porém, por iniciativa do professor João Renôr, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina, e com apoio do escritor, editor, historiador e acadêmico Adalberto Franklin, proprietário da Ética Editora, de Imperatriz, o livro "O Sertão" foi reeditado na capital piauiense, ou seja, em Teresina.
O professor João Renôr, que é da Editora da Universidade Federal do Piauí, durante entrevista a O PROGRESSO, informa que o livro pode ser encontrado na Livraria da Diocese de Imperatriz, localizada ao lado da Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Praça de Fátima, pelo preço de R$ 30,00 (trinta reais). "É bom ter estas notícias!", exclama, concluindo.
Sobre a terceira edição de "O Sertão", Adalberto Franklin - editor e coordenador da obra - ressalta que, apesar de ainda pouco conhecida do grande público brasileiro, o livro é uma obra que se coloca entre as mais densas e ricas contribuições à interpretação do Brasil interiorano, da gênese e índole do povo nordestino que nos séculos XVIII e XIX se esparramou pelos sertões maranhenses e goianos - hoje tocantinenses - e, ainda, uma das mais originais releituras dos importantes episódios da história brasileira.
"Todos que a ela tiveram acesso reconhecem o ineditismo e a ousadia da abordagem crítica da autora, que enxerga e relê com aguçados olhos sertanejos fatos que a versão oficial da história teima em reproduzir sob o olhar do colonizador europeu, dos nobres e intelectuais cortesões, dando-lhes novas versão e interpretação", reforça, acrescentando que, somente a partir de 2000, com o lançamento da segunda edição, "pudemos ver esta notável obra sertaneja propagar-se e tornar-se conhecida em nosso meio. Até então, pouquíssimas bibliotecas e raros pesquisadores dispunham dessa indispensável obra de referência".
Ainda, segundo Adalberto Franklin, agora, já distantes 82 anos do lançamento da primeira edição (1924), quando se imprimiram apenas 500 exemplares, "dá-se uma nova e necessária amplitude a este trabalho, com a elaboração de um exigido perfil bibliográfico da autora, o acréscimo de 101 notas explicativas e de um índice onomástico explicativo-remissivo, que certamente se tornarão elementos de facilitação da compreensão do leitor e fonte de informação mais aprofundada ao pesquisador".
Sobre João Renôr
O professor João Renôr nasceu em Riachão, no Sul do Maranhão, é membro da Academia Imperatrizense de Letras (AIL). Foi diretor do Campus II da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em Imperatriz, durante o período 1992-1995, sendo transferido para a Universidade Federal do Amapá (Macapá), ficando por lá de 1996 a 2001. Depois, esteve em Teresina (Piauí), onde se aposentou, voltando a Imperatriz. Aqui trabalha o Projeto de Mestrado em Educação Ambiental, no Centro de Ensino Superior de Imperatriz da Universidade Estadual do Maranhão (CESI-UEMA).
Filho de agricultor sem terra e mãe analfabeta descendente de nação indígena Timbira, João Renôr é graduado pela Faculdade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife. Logo cedo se destacou e correu o mundo, atrás de conhecimento, sempre conectado aos acontecimentos que marcaram os maranhenses e os brasileiros de modo geral. Mestrado em Geografia Humana pela Universidade e doutorado em História Latino-Americana pela Universidade de Sorbonne, em Paris (França). Hoje, mora e tem amigos em Imperatriz.
Na quinta-feira (5), após conversar com a reportagem de O PROGRESSO, o pesquisador viajou, ausentando-se da cidade por alguns dias. No retorno, trará mais exemplares da terceira edição - crítica e ampliada - do livro "O Sertão - Subsídios para a História e a Geografia do Brasil", da maranhense Carlota Carvalho, publicado pela Editora da Universidade Federal do Piauí (Editora da UFPI), com organização, notas explicativas e índice onomástico-remissivo de Adalberto Franklin e do professor e dele mesmo, como parte da "Coleção Nordestina", criada com o objetivo de publicar ou republicar obras representativas da produção intelectual do Norte e Nordeste do Brasil, nas áreas de Literatura, Ciências Sociais, Antropologia, Folclore, entre outras.
O que foi a "Balaiada"
A "Balaiada" foi uma revolta popular, no interior do Sertão do Maranhão, que aconteceu entre o período de 1838 e 1841, com tentativas de invasão de São Luís. Dispersado, estendeu-se para a vizinha província do Piauí. Participaram do movimento, escravos, pobres, fugitivos e prisioneiros, tendo por objetivo controlar o poder local. A pacificação definitiva só aconteceu com a anistia dada pelo imperador aos revoltosos sobreviventes. Motivo: a miséria promovida pela crise do algodão. (Wikipédia)
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