* Roberto Wagner

O título deste artigo é o mesmo que foi dado pela revista Veja a uma matéria veiculada na edição nº 2319, de 1º de maio de 2013 (páginas 120/122), que tratava da exposição, na cidade do Rio de Janeiro, de documentos históricos pertencentes ou sob os cuidados da Unesco. Pela força impiedosa do que revelam, esses documentos impõem uma releitura de certos vultos e de determinados episódios de nossa história.
Fica evidente, por exemplo, que Canudos “não era a vila de miseráveis e fanáticos que se costuma descrever”. Anotações que merecem crédito e registros fotográficos dão conta de que ali fervilhava intensa atividade econômica e que, ao contrário do que vem sendo propagado desde então, os combatentes que lutaram ao lado de Antônio Conselheiro eram, de modo geral, mais bem alimentados e trajados do que os soldados  do Exército que os enfrentavam.
Também diferentemente do que se pensa, José Joaquim da Silva Xavier não era exatamente, digamos assim, um poço de virtudes. Diz a reportagem que “quem tiver fôlego para se debruçar sobre os onze volumes dos Autos da Devassa, como é chamado o processo que condenou os inconfidentes mineiros em 1792, vai se deparar com uma imagem de Tiradentes bem diferente da que se aprende na escola”.
Abastado, comerciante esperto, notório agiota e dono, entre outras coisas, de uma enorme fazenda cheia de escravos, conforme mostram documentos incontestáveis, o cognominado “Mártir da Independência” nem de longe tem o perfil de herói nacional que dele se faz.
Fico pensando, cá com os meus botões, o que, de tudo o que já foi concretamente apurado até agora no âmbito da operação Lava Jato, pode estar sendo ocultado do conhecimento público, a pretexto de se proteger e resguardar a integridade e o bom nome de instituições como o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça e o próprio Ministério Público Federal.
É que essa coisa a que se dá o pomposo nome de ‘segurança jurídica’, e que é deveras fundamental para que funcione o nosso Estado Democrático de Direito, ficaria dramaticamente atingida, e irremediavelmente comprometida, caso viesse a lume, neste momento, eventual envolvimento, com esse mar de lama que se está vendo, de membros de nossas mais altas Cortes de Justiça ou do Ministério Público Federal. A repercussão negativa, e os estragos, ninguém duvida, seriam irreparáveis.
Enfim, só o tempo dirá, a quem estiver vivo até lá, se alguns dos “heróis” que hoje integram o STF, o STJ e o MPF estiveram ou não envolvidos com as safadezas que deixaram o País entre incrédulo e indignado. Tomara que jamais precisemos lamentar por eventuais patifarias daqueles em cujas decisões depositamos, nos dias de hoje, a mais irrestrita confiança. Que Deus nos abençoe e nos livre dessa decepção.

Advogado*