Hemerson Pinto
Para o homem que já construiu um açude à base da enxada e pá em vários dias de serviço braçal, a construção do ‘Sonho Real’ é somente mais um desafio a ser encarado e vencido. No povoado Imbiral, quando se escuta o som de batidas em chapas de ferro ou o barulho da máquina de soldar, ninguém tem dúvidas: o Jonas está trabalhando no barco.
Não é uma embarcação comum. É o ‘Sonho Real’, batizado assim antes mesmo de ter suas duas primeiras chapas coladas uma a outra. O projeto não tem previsão de quando vai ficar pronto, mas começou há cinco anos e o autor da ideia fez questão de afirmar: “Pode durar o tempo que for a construção, mas no dia que ficar pronto verei mais um sonho realizado. Um barco diferente, gigante, que se Deus permitir vai navegar pelo rio Tocantins levando turistas e pessoas interessadas em conhecer nosso rio. Tem muita gente que me questiona, me chama de louco igual me chamavam quando fiz um açude, sozinho, com uma enxada e uma pá. Mas terminei o açude e hoje tenho outros nove. Quando eu terminar o barco e colocá-lo na água, todos verão mais um sonho meu”.
Jonas dos Santos Bezerra, o ‘Joninha’, é nascido às margens do rio Tocantins, no povoado Imbiral (lado maranhense), onde mora até hoje. Tem 46 anos de idade e dedicou 15 ao transporte de passageiros e cargas ao longo do rio Tocantins em embarcações comuns, de madeira. É pescador profissional na carteira de trabalho, profissão que exerceu durante anos até a escassez do peixe no rio. É carpinteiro, agricultor, tem açudes e algumas cabeças de gado.
As economias vem aplicando aos poucos para ver o barco um dia entrar na água e acredita que já gastou mais R$ 20 mil. Ele mesmo põe a mão na massa. Paga alguém para ajudá-lo com o serviço de solda, que é demorado e precisa ser minuciosamente realizado para garantir a segurança da embarcação de 16 metros.
O motor ele já tem. É de uma D20, pois segundo o ‘engenheiro’ que também será o comandante do ‘Sonho Real’, “é um motor potente com 90 cavalos, muito bom para a navegação. Se não for positivo, vamos colocar outro”.
A ideia é transportar pelo menos 50 passageiros a cada viagem, com conforto e segurança. Depois do projeto pronto, vai apresentá-lo à Marinha e solicitar toda a documentação necessária. “Tudo dentro da lei e para garantir a segurança dos passageiros”, afirma.
O projeto do ‘Sonho Real’ inclui cobertura, cabine do comandante com todo o painel e suportes para facilitar a navegação até mesmo noturna. O tablado, ou piso, será de um material especial, antiderrapante, o qual Jonas já conseguiu parte dele. Terá bancos confortáveis e, pelo tamanho e estrutura, alguns moradores brincam com Jonas ao perguntarem quando o ‘navio’ ficará pronto.
Para levá-lo para dentro do rio, Jonas também já sabe o que vai precisar fazer. Vai ter de abrir parte da cerca de arame da chácara, colocar o ‘Sonho Real’ sobre peças de madeira e usar um trator para puxá-lo até a margem. Sabe que nesse dia o povoado deve ficar movimentado e quem sabe atrair a imprensa para fazer o mundo conhecer o ‘Sonho Real’ do Jonas.
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