*Roberto Wagner

Quem já leu o romance Ressurreição, de Machado de Assis, obra datada de 1872, se deparou, no capítulo VIII, com essa bela passagem: “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar.” Em tempos, como os de hoje, de tributo à boçalidade, de louvor ao obscurantismo, de culto à violência, dará um passo à frente quem se der ao trabalho de refletir sobre esse lembrete deixado pelo nosso maior escritor.

Desalentado diante de tanto atraso intelectual, chego a pensar que pós-modernidade talvez seja exatamente isso: a glorificação da estupidez. Aparenta ter razão aquele que se expressa com mais ironia e pronuncia mais palavrões; julga-se ser o certo aquilo que é defendido com mais rudeza; aceita-se mais facilmente o que é ditado pela insensatez, e por aí vai. O mais grave é que tudo leva a crer que esse quadro de estupidez coletiva, pelo menos aqui no Brasil, vai se ampliar.

Dir-se-á que as coisas são mesmo assim; que, depois de um certo tempo, essa onda de irracionalidade passará. Tenho as minhas dúvidas, principalmente quando percebo que aqueles que poderiam fazer alguma coisa para reverter esse quadro vêm ocupando cada vez menos espaço no tabuleiro da opinião pública. A situação, caríssimas e caríssimos leitores, é realmente preocupante.

Que desça sobre o Brasil, é o que se pode desejar, um facho divino que jogue luz sobre tanta barbárie, tanta imbecilidade, tanta mediocridade, e que, aqueles que têm alguma coisa na cabeça, comecem a rebater, com argumentos melhores e mais sólidos, as bobagens e cretinices que tanto se tem ouvido falar por aí.

Voltando ao romance Ressurreição, agora ao capítulo XVI, quem o leu também viu esse outro trecho: “O amor é a lei da vida, a razão única da existência” e, no capítulo XXIII, mais esse não menos belo e tocante fragmento desse estupendo romance de Machado de Assis: “Acredite o que lhe digo; amemo-nos de longe; sejamos um para o outro como um traço luminoso do passado, que atravesse indelével o tempo e nos doure e aqueça os nevoeiros da velhice.”

Este artigo é especialmente dedicado aos meus amigos, ambos brilhantes advogados, Roberto Caron e Wiara Sampaio, exemplos de honradez, sabedoria, companheirismo e tolerância.