Roberto Wagner

Em razão do inesperado falecimento de Rodrigues Alves, vítima da Gripe Espanhola, o vice de sua chapa, o mineiro Delfim Moreira, terminou assumindo a presidência da República, tendo tomado posse em 15 de novembro de 1918.
Ex-governador de Minas Gerais no período compreendido entre 1914 e 1918, depois de uma vitoriosa carreira política local, Delfim Moreira iniciou sua gestão como presidente em meio a grande expectativa, principalmente devido ao fato de que, sobre ele, a grande imprensa não sabia lá muita coisa, exceto que, nos últimos anos, vinha dando sinais, aqui e ali, de que faltava-lhe sintonia com a realidade; mas, enfim, nada que indicasse, concretamente, que poderia estar enfrentando problemas comportamentais efetivamente preocupantes. 
Em poucos dias, como se sabe, o vice de Rodrigues Alves passou a adotar uma conduta cada vez mais estranha. Para resumir, não demorou para que todos percebessem que o presidente que tínhamos nenhuma condição psicológica, digamos assim, apresentava para exercer tal missão. Ao passar o bastão para Epitácio Pessoa, isso em 28 de julho de 1919 - pouco mais de sete meses, portanto, de ter tomado posse, Delfim Moreira já não dizia coisa com coisa, vindo a falecer no ano seguinte.
Pois bem, em recentes manifestações, o Supremo Tribunal Federal, preocupado com as bizarras opiniões de Bolsonaro no que refere à Covid-19, deixou patente que o presidente pode muito, mas não pode tudo, sendo absolutamente certo, segundo os ministros daquela Corte, que não se admitirá qualquer medida presidencial que possa pôr em risco a vida de brasileiros. O ministro Gilmar Mendes -- com um certo exagero, reconheça-se -- chegou a falar, em entrevista concedida dias atrás, que não se admitirá, por exemplo, qualquer plano "genocida" de Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus.
Um dos propósitos da História, como costuma me lembrar o culto e respeitado historiador Cleto Louza Cruz, é possibilitar que, no presente, seja evitado o que de equivocado e/ou condenável tenha ocorrido no passado.
É evidente que nesse, como sempre, singelo e despretensioso artigo, nem de longe se está a traçar qualquer comparação entre os comportamentos de Bolsonaro e do ex-presidente Delfim Moreira. Seria leviano e desrespeitoso, para dizer o mínimo, se essa, por acaso, fosse a intenção deste escriba.
Com as limitações, de que padeço, de ser não mais do que mero dublê de articulista, atrevo-me, tão somente, a trazer à reflexão das leitoras e dos leitores de O PROGRESSO uma coisa que me parece, a cada dia que passa, mais clara e inconfundível: o inclemente afundamento, se nada for feito pelos que podem fazer para evitá-lo, deste gigantesco navio chamado Brasil, cujo comandante não parece estar agindo, pelas coisas absurdas que vem dizendo, com suficiente lucidez.
Um grande abraço em todos e até a próxima.