Roberto Wagner
A pandemia da Covid-19 tem arrasado famílias mundo afora e esse parece ser um drama sem fim. De minha parte, perdi pessoas queridas e o que posso dizer, com certeza, é que essas perdas, pelo significado que consigo antever, terão um peso verdadeiramente incalculável.
Nesse período de isolamento, tenho conversado todos os dias (pelo celular, é claro) com o meu velho e querido amigo Jânio de Oliveira; embora não tenhamos estabelecido qualquer regra, temos evitado tocar em assuntos pesados, em assuntos, em suma, que de alguma forma possam tornar mais cinzentas as tardes desses dias aziagos. Aqui e ali, no entanto, vem à baila a notícia de um amigo que se foi, de um companheiro que ficou pelo caminho. Nessas horas, sem ter outra coisa a fazer, procuramos um consolar o outro, rogando a Deus que conforte a família enlutada.
Vou me permitir citar duas perdas terríveis, a do advogado Catarino e a de seu Olímpio. Discreto, bem humorado, educado, elegante, Catarino era alguém que sabia como poucos respeitar o próximo sem deixar de ser um grande gozador, no melhor sentido que essa palavra pode ter.
Seu Olímpio era, sobretudo, um grande contador de histórias, sendo, ele próprio, ainda que não admitisse, o protagonista da maioria das histórias que contava. Guardarei dos dois momentos únicos, instantes inesquecíveis, conversas imorredouras.
Tive a doença; apesar da idade e dos problemas crônicos de saúde, alguns por sinal bem graves, consegui pular a fogueira, graças a Deus e aos anjos da guarda que me atenderam na UPA da Bernardo Sayão, em especial o médico Yuri Guilhem Rachid, a quem, em agradecimento, desejo vida longa, sempre cercada, nem preciso acrescentar, de muita paz e felicidade.
Algumas coisas, enfim, são pequenas e delas não devemos guardar lembranças; outras, ao contrário, são coisas grandes, e são essas que devem marcar nossas vidas. Catarino e seu Olímpio, entre tantos cujas vidas foram tragadas por essa infame pandemia, são exemplos de grandeza, de coisas boas, de coisas positivas. Vão fazer uma falta enorme; aliás, já estão fazendo. Consola-nos saber que deixaram, cada um ao seu modo, um extraordinário legado e que esse legado poderá ser desfrutado pelas futuras gerações.
Por hoje é só. Até a próxima.
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