Elson Araújo

Há muito tempo que se percebe, tanto aqui quanto lá fora, a carência de líderes num sentido extensivo. Conta-se nos dedos hoje no mundo quem consiga  transcender o significado da palavra (guia, chefe, aquele que tem a autoridade para comandar ou coordenar outros) e encarne a figura de um verdadeiro  líder. O mundo sofre de “carência múltipla” de líderes, contudo a história revela que esse é um mal que não é novo.
E, de fato, não é de hoje que os povos da Terra se ressentem da falta de quem ultrapasse o mero conceito etimológico da palavra líder. O historiador, diplomata, filósofo e político italiano da época do Renascimento, Nicolau Maquiavel, ao observar a sociedade e os conflitos daquele tempo, dizia que o “povo conspira para quem o protege”. Tal premissa, mesmo não sendo absoluta,  guarda  uma grande verdade: as pessoas  tendem a  apoiar, seguir,  admirar e a amar a quem julgam  capaz  de protegê-las, mesmo que seja uma aparente proteção e se transforme depois numa decepção.
Quando se fala em liderança, imagina-se logo que uma das missões do verdadeiro líder, além da fidelidade ao significado literal da palavra seja, de  estimular, motivar, alimentar, proteger e manter vivos os sonhos de quem lideram. Não se trata de um rol taxativo, portanto a arte de liderar não se estancaria nestes predicados ou em apenas comandar pessoas, uma cidade, um estado, ou uma nação; é, entre outras coisas, fazer valer a pena a liderança exercida.
Os estudiosos do comportamento humano talvez possam explicar melhor o porquê de o ser humano viver sempre em busca de proteção. Pode ser que tal sentimento seja verificado com mais ou menos intensidade em alguns, mas o  fato é que essa necessidade (proteção) é encontrada tanto na sua variável individual quanto  na  coletiva, o que faria surgir um fenômeno social que chamaria de “síndrome do cabra macho”, ou na versão feminina de “síndrome da dama de ferro”, que pode ser definida como a necessidade/inata inconsciente de uma pessoa, ou de um povo de se sentir protegido.
Tal síndrome, ao atrair o assunto para a questão política eleitoral, talvez explique o sucesso de figuras públicas de verbo fácil, com doses de coragem e um pouco de carisma, que acabam por alçar posições importantes de comando  principalmente em “tempos de crise”. Aqui no Brasil, Getúlio Vargas se encarnaria nesse estereótipo.  Ao liderar, como civil, a revolução de 1930 que pôs a termo a República Velha. Vargas ajudou a tirar o poder do então presidente Washington Luís e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes. Acabou sendo presidente do Brasil em dois períodos, o primeiro por 15 anos ininterruptos.
Nos dias de hoje, o ex-presidente Lula também se aproveitou dessa “síndrome do cabra macho” e assim como Vargas, com as devidas e notórias observações, ao  adequar o discurso ao sentimento  que na ocasião ocupava a mente da maioria do eleitor brasileiro, administrou o País por dois mandatos e ainda elegeu como sucessor quem ele quis.
Sem querer ir mais fundo na questão, a “síndrome do cabra macho ou da  dama de ferro”, não resta dúvida,  fica mais evidente  durantes as crises, ou seja, quando a população sente que o poder estabelecido em parte ou no todo,  não consegue mais responder aos anseios mais elementares da sociedade.  Quando isso acontece, surge um campo fértil para o “florescimento do  verbo fácil, das frases feitas e de efeito; da coragem, do carisma”, muitas vezes ensaiados ou dirigidos por especialistas em marketing e que uma vez encarnado é capaz de seduzir milhões de pessoas, como o que acabou de acontecer na nação mais poderosa do mundo, os Estados Unidos, cujo presidente eleito também, pelo visto, foi beneficiado pela síndrome do cabra macho.

Por fim, diria que liderar é fazer o, ou os outros, acreditarem que são capazes e que é possível mudar o mundo para melhor; tarefa para os verdadeiros líderes.