“Seu” Valentim e a filha Rosa Moreira
Local onde funcionava a “casa das máquinas”

Geovana Carvalho

O imperatrizense Valentim Borges, aos oitenta e seis anos, relembra parte da história recente de Imperatriz. “Seu” Valentin operou por muitos anos os primeiros geradores de energia elétrica de Imperatriz.
Nascido em 1925, Valentim Borges na juventude mudou-se para Belém-PA, onde trabalhou por anos na maquinaria de navios que transportavam petróleo de Belém a Manaus. “Eram seis dias viajando e quatro descarregando”, lembra.
“Seu” Valentim casou-se com uma moça de Imperatriz, Placidina Martins Moreira. O casal foi morar em Belém-PA. Dois anos depois – no início da década de 1950 – em visita a Imperatriz, “seu” Valentim foi convidado, pelo então prefeito Urbano Rocha, a trabalhar na operação e manutenção do gerador que forneceria eletricidade aos moradores da pequena Imperatriz. Convite aceito, “seu” Valentim viajou à capital paraense para comprar o gerador. Ao chegar em Imperatriz, montou o equipamento.
A filha Rosa Moreira Borges ajuda o pai a relatar as histórias: “O motor comprado pela prefeitura funcionou por mais de 15 anos. Ele começava a funcionar pela manhã e às seis horas da tarde era desligado”.
O pai completa: “Quando deu defeito o motor foi vendido... parece que foi pra Marabá”. Depois de algum tempo, “seu” Valentim comprou o próprio gerador, mais potente do que o antigo (com 35 cavalos), fornecia energia elétrica a cerca de cem famílias - das 18h às 22h30 - em toda a extensão das ruas 15 de Novembro, Coronel Manoel Bandeira e Godofredo Viana, até as proximidades da Praça União.
“Todos os dias papai ia cedo comprar óleo [diesel], dois galões com mais ou menos 40 litros, na beira do rio, no posto do ‘seu’ Jací, para abastecer a maquinaria. A mamãe fazia à mão as contas que eram deixadas de casa em casa”, recorda Rosa Moreira.
A eletricidade produzida pelo gerador de “seu” Valentim era de qualidade, afirma a filha Rosa. Ele também era responsável pela manutenção de postes e fios. “Os postes eram muito altos. Uma vez, umas dez horas da noite, deu um curto-circuito na rua 15 de Novembro e ele foi consertar os fios. Ele tomou um choque e foi levado ao hospital do doutor Régis, lá no São Vicente Ferrer. Com o choque, ele caiu da escada e até hoje toma remédio porque machucou a coluna”.
Em meados da década de 1970, segundo Rosa Moreira, chegou a eletricidade, durante a gestão do interventor Barateiro da Costa Silva. O gerador foi “aposentado”. Valentim Borges não ficou desempregado, na época trabalhava também na Rodobrás, atual DNIT - um dos primeiros funcionários do órgão na cidade.
Na casa que abrigou os geradores, funcionou a escola Frei Manoel Procópio. Hoje o lugar é ocupado pelo Instituto de Cultura e Arte Sotaque – em frente à casa da família, na 15 de Novembro. Rosa diz que ainda existem no prédio algumas características originais da antiga casa de máquinas.