Augusto Bandeira

 

Aí num mês de junho despontei,

Já menino rolei pelo grotão,

Com o vaivém do batente me abracei,

Boa cana acabava em rapadura...

 

Derramava também o fio da pura,

Alambique raiava e o pé descalço,

Terreiro tinha caça e jenipapo,

O rio correndo assim ali do lado...

 

Era Nélson meu pai, alto que só...

Minha mãe era Otília, bem valente!

Joaquim meu avô e minha vó

A tal Sinhá Bandeira, sangue quente...

 

Veio tempo e me fez sujeito forte,

Dum mundaréu de corda formei laço,

Com meu braço pintei a minha sorte,

No caminho do sol risquei o traço...

 

Da enrascada ganhei sempre de jeito,

Atravessei barranco, fiz serão...

Colhi o pão do largo desse leito,

Peixe grande escorria pela mão!

 

Proa no vento e a malha toda acesa,

Gota a gota esse meu itinerário,

Levei tralha comigo e armei fogueira,

Um mateiro do bom, pisei atalho...

 

Arrumei a farinha, banha, sal,

Viajei por demais, passei manhoso,

Com meu remo rasguei esse canal,

Estendi a picada no frondoso...

 

Zarpei do cais, peguei o diamante,

Depois fruta graúda no Pará,

Embolei muito ouriço pra cortar,

De castanha chapei o batelão...

 

Carreguei espingarda e meu facão,

Não faltou matagal, vulto de bicho,

Aí flecha afiada do índio brabo,

Rasto da onça mais porco-do-mato...

 

Ainda provei de farto festim,

Pois dancei um forró, fisguei rameira,

A lua cheia na noite sem fim,

O meu terno alinhado e a brincadeira...

 

Um dia quis consórcio, então casei...

A Domingas virou minha senhora,

Daí nossa morada levantei,

Nosso colchão montei com palha grossa!

 

Depois desabrochou penca de gente,

Sustentei a ninhada, labutei,

Salseiro no espinhaço, barro, enchente...

Por isso velho barco reforcei!

 

De uma cria brotou mais outra cria,

Netalhada estalou, daí cresceu,

Bocado de bisneto com bisneta,

Tetraneta floriu e a vida segue...

 

Água doce vazando lá pro mar,

Isso aí, a estação, a flor, meu passo...

É isso aí, não deixo de me ri,

Isso aí, meu irmão, e fim de papo!