Carlos Nina*
Encontrei-me com um dirigente de relevante organização da sociedade civil e tive a impressão de que ele, que desenvolve um trabalho altamente positivo em prol da categoria que representa, estava desalentado diante da situação em que se encontra o País.
Não tive oportunidade de conversar com ele, como gostaria, para estimulá-lo a não desistir, pois representa uma liderança e se ele, como líder, perde a esperança, aqueles que acreditam nele poderão perder, também. Ninguém pode culpá-lo, pois o comando das organizações da sociedade civil é sacrificante. Exceto para aqueles que as usam em benefício próprio e dos grupelhos que o cercam.
O trabalho quase isolado das poucas instituições efetivamente preocupadas em contribuir para a coletividade parece o de “enxugar gelo”. Contudo, por mais inútil que possa parecer, alguma coisa frutifica. Por isso não se deve perder a esperança, sob pena de facilitar as coisas para aqueles que usam as instituições, públicas e privadas, apenas para se locupletar e manter-se no poder.
Foi esse caos que levou milhares, senão milhões de pessoas em junho de 2013 às ruas, unidas pela revolta, tentadas pela desesperança, mas decididas na esperança de mudar os rumos do País. Não queriam rótulos institucionais em seu movimento, nem associações, nem sindicatos e, especialmente, nem partidos políticos, pois estes são a maior expressão da desonra nacional.
Há muito os informados sabiam que não havia partidos políticos no País. Só agremiações criadas para atender à legislação eleitoral, com vistas às eleições. Partidos políticos com valores democráticos e republicanos refletidos na conduta de seus filiados, de seus dirigentes, para além das letras inúteis de seus estatutos e programas, esses nunca existiram de verdade. Nem se preocupavam em esconder essa verdade. A mudança de partido pelos filiados sempre mostrou que nem eles nem os partidos tinham ou têm coerência, lógica ou afinidade com os valores de uns e de outros. A lógica, a coerência e a afinidade são ditadas pelo interesse e pela conveniência pessoais.
Nesse terreno uma inteligência movida pela ambição criou a mais fantástica propaganda enganosa da política brasileira. Fez grande parte da população, de pobres e miseráveis a intelectuais e barões da economia, acreditar no discurso contundente de combate à corrupção e a todas as práticas danosas contra os valores republicanos.
Esse discurso foi mantido com eficiente estratégia, que incluiu a criação de uma liderança para capitalizar os votos necessários dos que vinham sendo engabelados com o falso discurso da moralidade, até chegar o momento da etapa seguinte, como numa rede Pert, onde cada passo é programado para acontecer na devida sucessão. Era o momento de aliar-se àqueles a quem combatiam, para quebrar as resistências internacionais e, assim, contornar as resistências internas de banqueiros e empresários.
Conquistado o poder, a máscara caiu. O fantoche criado mostrou-se mais esperto do que seu criador, que foi derrubado com uma simples frase, proferida por um parlamentar com os olhos voltados para a câmera da TV: Zé, desce daí!
Como dizem dos bêbados em sua terceira fase, criador e criatura julgavam-se invisíveis e sucumbiram à própria ambição. Veio à tona, então, a igualmente fantástica máquina de corrupção nunca antes montada no planeta.
Apesar de tudo isso, a propaganda enganosa ainda faz efeito, dentro e fora dessa verdadeira organização criminosa que mergulhou o País numa crise sem precedentes, pelo volume de desempregados, pela disseminação da violência, pela omissão e incompetência do Poder Público.
E a população ainda é obrigada a ouvir que o dinheiro usado na campanha eleitoral foi lícito! São mentiras que se sucedem às propaladas durante a campanha. Se aquele dinheiro fosse usado na área da saúde, da educação, da segurança pública, do transporte público, com certeza a situação da população seria outra.
Por tudo isso é preciso não perder a esperança e resistir. Lutar. Não com as armas da violência, como incitam os irresponsáveis, pois isto só interessa aos que querem uma nova ditadura. A luta há de ser pela educação, pela informação, para que se tenha cidadãos esclarecidos decidindo o destino de seu País.
*Advogado. Juiz de Direito aposentado. Ex-Promotor de Justiça. Mestre em Direito Econômico e Político (Mackenzie-SP)
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