Domingos Cezar
"O Tocantins que nascia
Lá pras bandas de Goiás
Divisa com a Bahia
Também com Minas Gerais
Que descia majestoso
Tão bonito e tão voraz
Pra se encontra com o Amazonas
Esse não existe mais.
Esse rio Tocantins
Já foi caminho das águas
Que transportava pessoas
Que levava minhas mágoas
Cortando várias cidades
Levando em balsas a manada
De porco, de boi e vaca
Hoje não transporta nada".
Os versos acima são trechos de nosso livro "Alerta, Rio Tocantins" (Ética Editora - 2006), quando já fazíamos uma previsão sombria do futuro do nosso rio Tocantins, o segundo maior rio genuinamente brasileiro. Essa grandeza, entretanto, não impede sua morte se o homem continuar provocando de todas as maneiras seu assoreamento.
Isso me deixou muito mais preocupado depois que assistir ao retorno do Globo Repórter, na última sexta-feira (7), que deu destaque para o Oriente Médio, de maneira especial Israel e Jordânia, mas enfocando, sobretudo, o rio Jordão, aonde Jesus Cristo foi batizado por João Batista, há mais de dois mil anos.
Esse rio, considerado sagrado por cristãos de todo o mundo, também está morrendo pelas ações do homem. Fiquei a me perguntar: se o rio Jordão, que era volumoso e que Jesus certamente banhou em suas águas, vive seus últimos momentos, imagina o rio Tocantins, aonde tantos pecadores que nem eu banham em suas águas?
Escrevo esse artigo no meu rancho, contemplando as águas do rio Tocantins que até hoje - 8 de fevereiro - continuam em nível considerado baixíssimo se levarmos em consideração os anos anteriores à inauguração da hidrelétrica de Estreito. Nessa época do ano, o rio oscilava entre dez a doze metros acima do nível normal, hoje não chega a três.
E aí surge uma nova indagação: se o rio não encher o suficiente para subir nas restingas e grotões para encher os lagos e lagoas, aonde os peixes, das mais diversas espécies vão procriar? Daí porque mais da metade das espécies de peixes que povoavam o rio Tocantins entraram em processo de extinção.
Ressalto, mais uma vez, que o rio Tocantins não tem importância apenas por suas belezas naturais, mas, sobretudo, pela sua economia, pelo que representa na vida de milhares de pescadores, ribeirinhos, vazanteiros, barqueiros, que precisam dele para tirar sua sobrevivência e de seus familiares. Reflitam sobre isso...
Domingos Cezar - Ambientalista, diretor-conselheiro da Fundação Rio Tocantins e membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente - COMMAM.
Publicado em Cidade na Edição Nº 14927
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