Ser humilde não é ser menos que alguém, é saber que não somos mais que ninguém!
O notório caso do juiz de direito Marcelo Baldochi não deve ser analisado apenas como um ato exacerbado de uma autoridade que, ao não conseguir embarcar para o destino desejado, deu voz de prisão a dois funcionários de uma empresa aérea. Acredito que essa história não se encerra no factual, ou seja: não aconteceu, foi tornado público e pronto. Não há dúvida de que a situação, além de guardar muitas lições, terá outros desdobramentos.
Pelas versões apresentadas, o magistrado alega ter tido seus direitos de consumidor feridos. Acredita que agiu correto e dentro da lei ao determinar a prisão em flagrante dos aludidos operários da companhia aérea, que por sua vez, sentindo-se humilhados (um deles chegou a chorar) diante do olhar de diversas testemunhas, afirmaram que o juiz chegou atrasado ao terminal e que apenas cumpriram com as regras da empresa.
A primeira conclusão óbvia que se tem desse lamentável episódio é que essa coisa não foi boa para os dois lados; diria que pior para o polêmico magistrado que, por conta disso, teve anotações negativas (algumas já arquivadas) de sua carreira exploradas, à exaustão, pela mídia, e dessa forma, mesmo com a apresentação do contraditório, ao seu redor foi sedimentada uma imagem que certamente nenhum agente público gostaria de ostentar.
Esse caso poderia ser apenas mais um dos muitos que já ocorreram no Brasil afora e ficou no anonimato, mas aconteceu em 2014 e envolveu uma autoridade do Judiciário diante de várias testemunhas que tudo acompanharam, não só com os olhos, mas com as câmeras dos celulares a toda carga.
Em segundos o episódio já estava nos sites, blogs, nas contas de facebook, whatsapp e em função do local, pelas circunstâncias, pelos personagens envolvidos, também na chamada grande mídia.
Uma jovem testemunha que gravava a cena me disse que, indignada diante do que assistia, ainda pensou em intervir a favor dos operários, mas foi contida pelos pais e pelo medo de se prejudicar. As cenas que ela gravou foram parar na UOL e depois nos telejornais da Globo.
Uma segunda conclusão: o mundo se tornou um grande “big brother”. As ações, atos e omissões, sejam positivas ou negativas dos “laureados” ou dos comuns”, são acompanhadas hoje em tempo real, não só pela mídia convencional, mas pelas novas mídias. Diante dessa realidade, qualquer um pode ser transformado em herói ou bandido. Trata-se de um fenômeno relativamente novo que a sociedade brasileira ainda não conseguiu se adaptar direito. Não estamos mais sozinhos.
Teoricamente, vivemos sob “o império da lei” onde todos somos iguais, sem distinção de qualquer natureza, onde homens e mulheres vivem em pé de igualdade de direitos e obrigações; onde ninguém é submetido a tratamento desumano ou degradante e onde se consagra o princípio da dignidade da pessoa humana. São, como se vê, mandamentos positivados na nossa Constituição de 1988 que bem poderiam ser resumidos numa única palavra: respeito, respeito mútuo. Regra elementar do convívio entre humanos que se fosse cumprida nem precisaria constar na nossa lei maior.
Essa semana meus olhos pousaram sobre uma frase de domínio público segundo a qual “ser humilde não é ser menos que alguém, é saber que não somos mais que ninguém”.
A frase acima poderia ser encaixada perfeitamente na situação que envolveu o juiz e os operários da TAM. Podemos até ser diferenciados pela fama, pelos cargos que ocupamos, pela conta bancária, pela roupa, pelos títulos acadêmicos ou religiosos que ostentamos, mas jamais poderemos esquecer que somos humanos, vivemos em sociedade e que para uma convivência pacífica, como já mencionamos, há necessidade de respeito mútuo.
Ressalte-se que nem precisaríamos de códigos legais para fazer valer o que é um dever e um direito de todos: tratar bem e ser bem tratado, respeitar e ser respeitado. A regra é clara e não há nenhum mistério nisso.
* Elson Mesquita de Araújo, jornalista.
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