Illya Nathasje
Domingo, 15 de março de 2015, foi um dia histórico. Somos um país abúlico, sem tradição de grandes manifestações. 1964, a Marcha da Família; 1984, Diretas Já; 1992, os Caras Pintadas do Fora Collor e pronto, temos aí 50 anos de história. Nosso último protesto foi aquele de 2013 e o que há de comum entre ele e as manifestações desse domingo? Pode-se afirmar que, de lá para cá, mudanças existem. A primeira delas é o estreitamento do tempo entre um acontecimento e outro. De junho daquele ano ao março atual, são menos de dois anos. A segunda, mostra uma população pontuando sua insatisfação. Com acréscimos. Se na primeira o protesto era generalizado contra tudo e todos, a ponto de não saber precisamente contra o que e quem, neste, é percebível, contra a classe política e seus partidos, corrupção, a saber. Mais: um grito de dois milhões de pessoas personificando Dilma Rousseff e seu governo.
Tirem das faixas exibidas e do momento político, o Impeachment e as Vivandeiras de Plantão com suas viúvas saudosas de golpe militar. Meramente refregas ou vazio político. A escalação de dois importantes ministros, Miguel Rosseto, Casa Civil, e José Eduardo Cardozo, da Justiça, pela presidente para que assim, acabadas as manifestações, entrassem em cena naquilo que resultou enquanto entrevista, um desastre, já que é visível a intenção de pautar repórteres com uma antecipada explanação com fundo de respeito à livre manifestação “(…) e o governo respeita isso” e na outra ponta do cabo de guerra, Rosseto afirmando que eram “(…) visivelmente eleitores que não votaram na Dilma” e cego dos cegos, afirmar que o governo precisa dialogar com as entidades que também se manifestaram na sexta-feira, 13. Entidades ‘secularmente’ aliadas do governo, ressalte-se.
Soa como me engana que eu gosto, que depois de 12 anos de mandato venha agora, como fez o ministro da Justiça, prometer fazer reforma político-eleitoral, porque, como está, é a porta para a corrupção. Aliás, essa já foi uma promessa de campanha da então candidata. Apontar para o financiamento público como se residissem nele todas as mazelas pelas quais passa o Brasil e depois de ter dele usufruído (entendam bem, não é ao ministro que me refiro), como mostra a Operação Lava Jato, é argumento frágil. Coisa de momento …
O PT não oferece mais um horizonte. O exercício de sua política e sua prática de poder nos oferece, sim, uma nuvem negra. O estrangulamento financeiro dos aposentados e dos funcionários públicos através dos empréstimos consignados, o gás de cozinha a 60 reais, o transporte coletivo sempre acima dos 2 e 50, a gasolina a mais de 3 e 50, a carne além dos 20 e por aí vai, com uma inflação maquiada perigosamente na casa dos 8 por cento. O caos do FIES, o comércio estagnado vai por conta do PIB Zero onde o desemprego é consequência.
Não bastasse, o fiasco nas medidas administrativas e nas políticas públicas de um governo que tenta se apossar de ações da Polícia Federal, Ministério Público e Poder Judiciário como se ações institucionais fossem portarias. Tem o governo nariz de Pinóquio, mas posa com a aparência de Têmis. Não cola. Esse domingo com o grito de mais de dois milhões sob um canto só, o do Hino Nacional, mostrou ao Brasil mais que a quantidade de pessoas, a amplitude de um protesto, real, de norte a Sul. Falta ao governo, humildade. Reconhecer que não acertou. Sair pro limpo. A manter o nariz empinado, o erro que veio de antes, continua. Enfim, respeitem seu João. Respeitem dona Maria, personagens típicos em qualquer rincão brasileiro. Sem essa de elite branca ou de varanda gourmet. Essas, existem na concepção de quem ganha fácil, e nenhum daqueles que foram às ruas, com todo o respeito aos trabalhadores da Petrobras, ocupou nela cargo de diretoria, nem fez negócios em Passadena e nem atua no Palácio do Planalto.
- Esses, sim, ainda que enrolados (seja na Justiça ou na política), privilegiados.
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