Domingos Cezar

Conheci a senhorita Irene Maranhão Dias no meu primeiro dia de trabalho no Banco Real - Agência de Imperatriz - localizada naquela época na então Rua, hoje Avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, na Praça de Fátima. Era setembro de 1999, ano em que o presidente João Batista Figueiredo concedeu anistia política aos exilados da ditadura militar.
Vivíamos no período mais sangrento da história política desse país, afastados da liberdade, da democracia que tanto sonhávamos. Imperatriz tinha como carro chefe de sua economia a produção de arroz, que se acumulavam nas usinas espalhadas pela Farra Velha e bairro Maranhão Novo, e também pela indústria madeireira que ganhava vulto.
Menos de um ano depois - fevereiro de 1980 - foi que houve a grande explosão econômica provocada com a descoberta do garimpo de Serra Pelada. É certo que Serra Pelada à época, era município de Marabá (PA), mas os moradores de Imperatriz foram os que mais se destacaram e bamburraram no garimpo trazendo enormes fortunas para a cidade.
Mas deixemos essas considerações e voltemos para Irene Maranhão e ao Banco Real. Naquela manhã de setembro conheci aquela bela morena, cor de canela, corpo perfeito, coxas roliças, os cabelos lisos com ondas nas pontas ao cair-lhe sobre os ombros. Tudo isso me foi perceptível, muito embora tinha àquela época apenas 23 anos de vida. Era um aspirante a boêmio.
Além de sua beleza física também me chamou atenção sua maneira de receber e tratar os clientes, bem como os colegas, sempre com um sorriso que formava um fundinho na bochecha, tornando-a mais bonita. Até parece que o talentoso Juca Chaves a conhecera para compor "Cúmplice" (que ao sorrir provoque uma covinha linda...) uma das mais belas de suas canções, gravada recentemente pelo cantor Fábio Júnior.
Assim era Irene. No iniciar daquela nova atividade profissional da minha vida (bancário) ela me chamou e disse: você vai trabalhar comigo na carteira de Ordem de Pagamento, carteira esta muito concorrida, mas que ela conduzia com maestria. A princípio, confesso, não gostei, achei-a muito autoritária.
Mas não era. Acontece - depois descobri - que a minha nova chefa não gostava de pessoas que tinham dificuldade de aprender as coisas. Quando era mais jovem tinha eu muita facilidade de aprender tudo que aquilo que desejava. Desta forma, passei a ser um exímio colaborador da Irene e, por esta razão, ela então passou a gostar mais de mim, me ensinando e protegendo.
Fui transferido em julho de 1980 para Tucuruí, na companhia do colega Antonio Cortês Silva (Cortês Motos) e só voltamos a nos reunir em 1999, 20 anos depois na chácara da Isabel, no Bananal. Para esse encontro histórico me dirigi de carona no veículo da Irene, que me buscou na Câmara Municipal onde estava numa reunião política. Fomos ouvindo o cantor Matos Nascimento. Ela deixara de fumar, tornara-se evangélica.
Vivemos neste domingo, um dos mais aprazíveis, pois tentamos reunir todos os colegas da época. Do nosso tempo de Banco Real, lembramos além da anfitriã Isabel, Irene, Cortês, Barros (que veio de Sítio Novo), Batista, Reis, Edna, Lima, Paulo Baiano, Edmar, Luciano, Seu Osvaldo (gerente), Valter Lucena, que apelidávamos de Magal, em face a exuberante cabeleira, entre outros que não recordo no momento.
Nos últimos tempos vinha recebendo com uma certa constância notícias da Irene, por intermédio do nosso colega Lima, que estava mais perto dela. Informava-me quando ela melhorava ou piorava da cruel enfermidade (câncer). Na manhã desta quarta-feira (24) li em O Progresso que a Irene havia partido para bem perto do Senhor, a quem devotara por toda sua vida. Descanse em paz, Irene.