Hemerson Pinto
Uma festa popular que este ano reuniu um público considerado recorde desde quando foi iniciado o festival de repentistas, realizado na casa do seu ‘João Peixeiro’, o ‘Peixeiro do Pé de Manga’. O palco? A calçada da residência do anfitrião, ornamentada com dois tamboretes de couro, pedestais para os microfones, uma caixa amplificadora e duas violas. Gargantas afinadas como os instrumentos, versos, rimas e muita descontração. O show começou.
‘Paraibano’ e ‘Pernambucano’ vieram do estado do Pará, mas têm suas origens nos estados nordestinos que lhes renderam os apelidos, ou nomes artísticos. Bem alinhados, violas limpas à base de um pano umedecido em um líquido perfumado, os dois repentistas começaram a brincadeira em versos que faziam um traçado do porte físico do dono da casa. Mexeram com o público presente, agradeceram a participação e convidaram quem passava pelo cruzamento da Avenida Jacob com a Rua Abaeté, na Vila Brasil.
O espaço destinado à plateia ficou pequeno em poucos minutos e logo a Rua Abaeté foi parcialmente interditada. Gente em pé, agachado, sentado em cadeiras ou no meio-fio, encostado no poste. A Polícia Militar foi até o local, mas para prestigiar o evento, como fizeram o prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, o vice-prefeito Luiz Carlos Porto e o deputado estadual Léo Cunha.
De camarote, alguns visitantes acompanhavam os versos provando doses de algumas bebidas que levaram em caixas térmicas. “Não é todo dia que a gente vê uma festa como essa. Trouxe algumas latinhas aqui no isopor, é uma descontração”, disse o homem que procurava um local que lhe possibilitasse visão melhor dos artistas. Outro, com um copo vazio na mão, procurava o amigo que ‘sumiu’ na multidão levando a garrafa de cachaça sertaneja, “que eu trouxe da Baixada e guardei três meses em casa esperando chegar o dia de hoje. Mas ele me paga”, brincou o visitante.
Seu João, animado como sempre, agradecia um a um dos frequentadores do evento aberto, com um aperto de mão e uma batidinha no ombro. Sempre perguntando: “Tá tudo bem né?”. Antes do início da festa, no quintal da residência do ‘Peixeiro do Pé de manga’, a reportagem de O PROGRESSO e outros colegas da imprensa de Imperatriz, convidados de honra do dono da casa, dividiam a mesa ofertada com arroz, carne de porco, galinha caipira, tatu e farinha de puba. Haja jornalista pra dar conta.
Na frente da casa, a principal notícia eram os versos improvisados que passaram a lembrar momentos vividos pelos cantadores ainda na infância: sofrimento na luta diária pela sobrevivência dentro das roças, enchentes trágicas para lavradores, secas devastadoras, até chegar às brincadeiras de infância, adolescência e o primeiro beijo, as farturas e a experiência com as cordas das violas. O público viajava nas lembranças, com as quais também se identificavam. Alguns encheram os ‘olhos d’água’ enquanto ouviam. No ano que vem tem mais. “Se Deus permitir”, comenta seu ‘João Peixeiro’ no evento realizado na noite da última quinta-feira.
Publicado em Cidade na Edição Nº 14862
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